O dólar emendou o terceiro pregão consecutivo de queda nesta quarta-feira, 26, dia marcado por apetite ao risco no exterior. Investidores migram para bolsas e divisas emergentes à medida que a divulgação de dados da economia americana – represados pela paralisação (shutdown) da máquina pública – estimula apostas cortes de juros pelo Federal Reserve em dezembro.
Operadores afirmam que a maré externa positiva se sobrepõe à preocupação com os atritos entre o governo e o Congresso, evidenciados pela aprovação de terça, no Senado, do projeto de aposentadoria para agentes comunitários de saúde, a chamada “pauta-bomba”. Embora não provoquem uma alta do dólar, os ruídos políticos e os temores de aumento mais expressivo de remessas de lucros e dividendos no fim do ano podem tirar parte do fôlego do real, ponderam analistas.
Com mínima de R$ 5,3321, na reta final do pregão, o dólar à vista fechou a R$ 5,3346, em queda de 0,78%, levando as perdas na semana a 1,24%. Houve relatos entrada de recursos para renda fixa e bolsa, em dia de novo recorde do Ibovespa, que superou os 158 mil pontos. No ano, a moeda americana recua 13,68% em relação ao real.
“O movimento de desvalorização do dólar hoje é global e está muito ligado à renovação da percepção de que o Fed pode de fato cortar os juros no mês que vem”, afirma o economista-chefe da economista-chefe da Análise Econômica, André Galhardo.
O economista observa que a divulgação nos últimos dias de indicadores de atividade de inflação nos EUA, aliada a declarações recentes de dirigentes do Fed, apagaram os efeitos das fala mais dura do presidente do BC americano, Jerome Powell, após a decisão de política monetária em fins de outubro. Na ocasião, Powell frisou que um corte de juros em dezembro não estava garantido.
“Os números que vêm sendo divulgados após o fim do ‘apagão de dados’ sugerem um processo gradual de desaceleração da atividade econômica. Tivemos hoje o PMI de Chicago muito abaixo do esperado, o que reforça essa percepção”, afirma Galhardo, ponderando, contudo, que há dúvida se haverá espaço para continuidade do ciclo de afrouxamento monetário nos EUA em 2026.
O índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) de Chicago caiu de 43,8 em outubro para 36,4 em novembro, bem mais que o esperado por analistas, 43,5. Leitura abaixo de 50 indica contração da atividade. Divulgado à tarde, o Livro Bege, relatório do Fed sobre as condições da economia americana, reforçou o quadro de perda de força gradual da economia dos EUA.
Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY apresentava ligeira queda no fim do dia, ao redor dos 99,600 pontos, após mínima aos 99,555 pontos. Na contramão dos pares, o iene recuou na comparação com o dólar, o que tende a estimular operações de carry trade com moedas de países de juros altos, caso das divisas latino-americanas.
Analistas ponderam que a manutenção do apetite por divisas emergentes e a manutenção da taxa Selic em 15% até o fim do ano podem mitigar as pressões sobre o real com o aumento de remessas ao exterior. Há preocupação com eventual antecipação de dividendos em razão da taxação embutida no projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda, sancionado nesta quarta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA-15 subiu 0,20% em novembro, acima da mediana das estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, de 0,18%. A avaliação de economistas ouvidos pela Broadcast é a de que a leitura do índice foi benigna, com desaceleração das médias dos principais núcleos.
“O IPCA-15 não trouxe mudanças relevantes no cenário doméstico, apesar de ser qualitativamente positivo. O primeiro corte da Selic deve vir no primeiro trimestre, em janeiro ou março”, afirma Galhardo, da Análise Econômica.