Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar avançava frente ao real nesta quarta-feira, em linha com recuperação da divisa norte-americana no exterior, com todas as atenções voltadas para a divulgação da ata do último encontro de política monetária do Federal Reserve, que pode fornecer pistas sobre a trajetória futura de elevações de juros na maior economia do mundo.

O documento, a ser divulgado às 15h (de Brasília), é referente à reunião do começo de maio do banco central norte-americano, em que o Fed subiu sua taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, o maior aumento em 22 anos, e disse que começará a reduzir sua carteira de títulos no próximo mês como mais um passo na batalha para reduzir a inflação.

Desde o encontro, várias autoridades apareceram em público para compartilhar suas visões sobre a política monetária, entre elas o chair Jerome Powell, que recentemente endureceu o tom ao dizer que o Fed insistirá em elevar os custos dos empréstimos até que veja sinais convincentes de que o ritmo de alta dos preços está diminuindo.

“O principal ‘driver’ para o dólar no dia é a ata do Fomc (comitê de decisão de juros do Fed), não só no Brasil, mas no mundo todo”, disse à Reuters Bruno Mori, planejador financeiro pela Associação Brasileira de Planejamento Financeiro, notando forte valorização do dólar contra uma cesta de moedas de países desenvolvidos.

Conforme a grande maioria das divisas de países emergentes também perdia terreno, às 10:27 (de Brasília) o dólar à vista avançava 0,54%, a 4,8392 reais na venda, depois de mais cedo avançar 1,09%, a 4,8653 reais.

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Na B3, às 10:27 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,31%, a 4,8455 reais.

Mori avaliou que o mercado tem sofrido com uma volatilidade elevada, em parte por conta de dúvidas sobre qual será a intensidade e a velocidade do aperto da política monetária norte-americana, que está em andamento justamente num momento de maior fragilidade econômica nos EUA. “Não existe tendência totalmente clara em relação à atividade, e a moeda (dólar) acaba ficando sem direção certeira”, disse o especialista.

Juros mais altos nos Estados Unidos são vistos, no geral, como fator de impulso para a divisa norte-americana, já que tornam a renda fixa local, a mais segura do mundo, mais rentável.

No entanto, depois de chegar a tocar um pico em mais de duas décadas em meados deste mês, o dólar perdeu um pouco de seu brilho nos últimos dias, acompanhando declínio nos rendimentos dos Treasuries, tanto pelos receios sobre o crescimento da atividade quanto por sinalizações mais duras de outros bancos centrais, como o Banco Central Europeu (BCE), em meio ao salto da inflação.

“As surpresas de inflação persistentemente mais altas levaram a um aumento da incerteza, e o prêmio de risco se reflete nos mercados, que precificam juros terminais mais altos e probabilidade crescente de recessões” disseram estrategistas do Citi em relatório.

No Brasil, apesar das incertezas, o dólar acumula queda de mais de 13% contra o real até agora em 2022, depois de registrar sua maior queda trimestral em mais de 13 anos no período de janeiro a março.

Mori afirmou que o dólar foi apoiado mais cedo neste ano, entre outros fatores –como o patamar elevado da Selic e uma disparada nos preços das commodities–, por um forte ingresso de fluxos na bolsa brasileira, que já perdeu ímpeto desde abril, o que também explica a recuperação da divisa norte-americana ante as mínimas deste ano, de cerca de 4,60 reais.

Olhando para frente, principalmente a partir do segundo semestre o planejador financeiro espera mais volatilidade no mercado de câmbio, “não só pelo fator Fed mas também por conta do processo eleitoral confuso e conturbado” que o Brasil deve enfrentar até outubro.

O dólar negociado no mercado interbancário fechou a última sessão em alta de 0,11%, a 4,813 reais.

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