Por Luana Maria Benedito

SÃO PAULO (Reuters) – O dólar chegou a subir mais de 1% contra o real nesta segunda-feira, acompanhando movimento internacional de busca por segurança em meio a temores sobre o crescimento global e endividamento da gigante chinesa Evergrande, antes ainda das reuniões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central do Brasil.

Às 10:07, o dólar avançava 0,95%, a 5,3379 reais na venda, depois de tocar 5,3471 reais na máxima do dia, alta de 1,13%. Na B3, o dólar futuro tinha alta de 0,91%, a 5,345 reais.

A pressão compradora vinha em linha com a aversão a risco no exterior, com o dólar subindo cerca de 0,8% contra rand sul-africano e peso mexicano, dois dos principais pares do real. O índice da divisa norte-americana contra seis rivais fortes subia 0,17%, a 93,381, e chegou a tocar uma máxima em quatro semanas.

Os operadores globais têm visto muitos motivos para cautela nas últimas semanas, em meio a sinais de salto da inflação e arrefecimento do crescimento nas maiores economias do mundo, enquanto o risco elevado de default da incorporadora chinesa Evergrande gerava temores de impacto disseminado nos mercados financeiros.

“Estamos amanhecendo com forte queda das bolsas da Europa e (futuros dos) EUA, pressão nas commodities metálicas não preciosas e dólar forte”, escreveu em blog Dan Kawa, CIO da TAG Investimentos.

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“O que estamos observando nos últimos dias são sinais preocupantes de contágio da situação da Evergrande para outras empresas do setor na China. (…) Obviamente que o cenário na China é extremamente desafiador para o Brasil, que ainda precisa lidar com suas peculiaridades locais.”

A semana repleta de reuniões de política monetária também ajudava a manter tom de cautela entre os investidores, disse em nota Ricardo Gomes da Silva, superintendente da Correparti Corretora, citando o encontro do Federal Reserve como o destaque da agenda.

O banco central dos Estados Unidos encerra sua reunião de dois dias na quarta-feira, e dados econômicos mistos têm embaçado as perspectivas dos investidores para o futuro do estímulo monetário na maior economia do mundo, embora a maioria espere que um anúncio de corte nas compras de títulos do Fed fique para novembro ou dezembro.

Segundo especialistas, a antecipação desse anúncio tenderia a impulsionar a divisa norte-americana globalmente, uma vez que redução de estímulos sugeriria retorno de dólares para os EUA.

No Brasil, o Banco Central também anuncia na quarta-feira sua decisão de política monetária, e o consenso do mercado é de que a taxa Selic será elevada em 1 ponto percentual, a 6,25% ao ano.

Gomes da Silva relembrou que o presidente do BC, Roberto Campos Neto, “corrigiu” recentemente as apostas mais agressivas para a alta dos juros, afirmando que a autarquia não vai alterar seu plano de voo a cada dado de alta frequência que sair. Antes dessa fala, de terça-feira passada, parte dos investidores precificava aumento de 1,25% ou até 1,5% no encontro de setembro do Comitê de Política Monetária (Copom), em meio a crescentes pressões inflacionárias.

O ciclo intenso de aperto monetário do Banco Central — o mais agressivo do mundo no momento — é visto como fator de apoio para a divisa brasileira, uma vez que eleva a rentabilidade do mercado de renda fixa doméstico, mas a inflação cada vez mais pressionada tem gerado temores sobre a manutenção do atual ritmo de alta da Selic.

“O risco é perder o controle sobre as expectativas para a inflação no horizonte relevante e reduzir a eficácia da política monetária”, disseram estrategistas da Genial Investimentos em nota.

O dólar à vista teve alta de 0,42% no último pregão, a 5,2875 reais, máxima desde o último dia 8 (5,3236 reais).

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