O dólar voltou a subir no mercado doméstico de câmbio e chegou a flertar com fechamento acima do nível psicológico de R$ 5,00 nesta sexta-feira, 15, mais um dia marcado pela valorização da moeda norte-americana no exterior e por avanço das taxas dos Treasuries. Ainda sob impacto dos índices de inflação ao consumidor e ao produtor nos EUA divulgados nesta semana, investidores adotaram uma postura defensiva, à espera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) na próxima quarta-feira, 20.

A leva de indicadores positivos da economia brasileira nos últimos dias poderia dar algum fôlego para o real, mas analistas apontam que o temor de que o governo Lula aumente gastos públicos para recuperar a popularidade e o imbróglio dos dividendos da Petrobras aumentaram a busca por proteção na moeda norte-americana.

Depois dos dados positivos das vendas do varejo em janeiro divulgados na quinta-feira, nesta sexta saíram números fortes do setor de serviços e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), também referentes a janeiro. Esse quadro já leva parte dos analistas a trabalhar com a hipótese de que o Banco Central – que também anuncia sua decisão de política monetária no dia 20 – desacelere o ritmo de cortes da taxa Selic até meados deste ano.

Com oscilação de menos de dois centavos de real entre a mínima (R$ 4,9827) e a máxima (R$ 5,0016), o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,22%, cotado a R$ 4,9980. Na semana, a divisa avançou 0,34%, o que leva a valorização acumulada no mês a 0,50%.

“Os números de inflação nos EUA surpreenderam negativamente e o mercado começou a reduzir as chances de corte dos juros pelo Fed em junho, o que fez o dólar trabalhar mais perto de 5,00”, afirma o chefe da mesa de operações do C6 Bank, Felipe Garcia, ressaltando que o real apresenta em março comportamento “um pouco pior” que de seus pares entre divisas emergentes.

É dado como certo que o Fed vai anunciar no dia 20 manutenção da taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50%. As atenções se voltam ao tom do comunicado e às projeções dos dirigentes da instituição para inflação, atividade e taxa de juros contidas nos chamados gráfico de pontos.

Monitoramento do CME Group mostra que as chances de o BC americano reduzir os juros em junho, que chegaram a superar 80% no início do mês, caíram para menos de 60% nesta sexta. O cenário mais provável ainda é de uma redução dos Fed Funds em 0,75 ponto porcentual neste ano.

Garcia, da C6 Bank, observa que, na última edição dos “dot points”, a maioria dos dirigentes previa três reduções dos juros neste ano. Projeções mais conservadores e uma postura mais dura do Fed podem levar à nova rodada de alta do dólar no mundo, respingando sobre o real.

“É isso que vai definir se a taxa de câmbio vai continuar trabalhando no intervalo entre R$ 4,85 e R$ 5,00 ou se vai mudar de patamar, para um range entre R$ 5,00 e R$ 5,10”, diz Garcia, ressaltando que fatores internos, como a retenção dos dividendos extraordinários da Petrobras, também levaram o dólar a operar mais perto de R$ 5,00 nos últimos dias. “O fluxo continua positivo, com a balança comercial forte, mas houve uma piora tanto no cenário externo quanto nas questões locais.”