VATICANO, 21 OUT (ANSA) – Em dois terços do planeta, onde vivem cerca de 5,4 bilhões de pessoas, a liberdade religiosa não está totalmente garantida, segundo o novo relatório da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACS) divulgado nesta terça-feira (21).
O estudo analisou a situação em 196 países e identificou violações graves em 62 deles. Destes, 24 países enfrentam uma perseguição religiosa aberta, enquanto outros 38 são marcados por discriminação contra comunidades de fé. Apenas duas nações ? Cazaquistão e Sri Lanka ? apresentaram avanços em relação à edição anterior do relatório.
“O direito à liberdade de pensamento, consciência e religião, protegido pelo Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, não está apenas sob pressão: em muitos países, está desaparecendo”, alertou Regina Lynch, presidente internacional da ACS.
O relatório identifica o autoritarismo como o principal impulsionador da repressão religiosa. Em 19 dos 24 países com perseguição e em 33 dos 38 com discriminação, os próprios governos implementam políticas para controlar ou suprimir a vida religiosa.
Em países como China, Irã, Eritreia e Nicarágua, são usados mecanismos como vigilância em massa, censura digital, legislação repressivas e prisões arbitrárias para sufocar as comunidades religiosas independentes.
O relatório também denuncia a crescente “burocratização da repressão” religiosa, com estados utilizando estruturas legais e administrativas sofisticadas para restringir a fé: “O controle da fé tornou-se um instrumento de poder político”, destaca.
Além disso, faz um alerta sobre a expansão do extremismo islâmico, especialmente na África e na Ásia, sendo o principal fator de perseguição em 15 países e contribuindo para a discriminação em outros 10. O Sahel foi identificado como o novo epicentro da violência jihadista.
Já o nacionalismo étnico-religioso tem levado à opressão de minorias em países asiáticos. Na Índia e em Myanmar, comunidades cristãs e muçulmanas sofrem com agressões, leis discriminatórias e exclusão legal.
No caso indiano, o relatório fala em “perseguição híbrida”, uma combinação de leis discriminatórias e violência perpetrada por civis, mas incentivada pela retórica política.
O declínio da liberdade religiosa foi ainda mais exacerbado por conflitos armados que afetam países como Myanmar, Ucrânia, Rússia, Israel e Palestina.
Na Nigéria, ataques de grupos armados ligados a pastores Fulani radicalizados resultaram em milhares de mortes e no deslocamento forçado de comunidades inteiras. No Sahel ? especialmente em Burkina Faso, Níger e Mali ? jihadistas destruíram aldeias inteiras. Já no Sudão, a guerra civil apagou comunidades cristãs centenárias do mapa.
O crime organizado também emergiu como um novo agente de perseguição. No México e no Haiti, grupos armados assassinam ou sequestram líderes religiosos e extorquem dinheiro de paróquias para exercer controle territorial.
A erosão da liberdade religiosa também se estende à Europa e à América do Norte. Em 2023, a França registrou quase mil ataques a igrejas e a Grécia contabilizou mais de 600 atos de vandalismo.
Picos semelhantes foram observados na Espanha, Itália e Estados Unidos, com incidentes de profanação de locais de culto.
O relatório ainda documenta o aumento de atos antissemitas e contra muçulmanos após os ataques de 7 de outubro de 2023 e o início da guerra em Gaza. Na França, os incidentes antissemitas aumentaram 1.000%, enquanto os crimes de ódio contra muçulmanos aumentaram 29%.
Na Alemanha, 4.369 incidentes relacionados a conflitos foram relatados em 2023 ? em comparação com apenas 61 no ano anterior.
Desta forma, a Ajuda à Igreja que Sofre lançou uma petição global apelando aos governos e organizações internacionais para que garantam a proteção efetiva do Artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhece o direito de todos à liberdade de pensamento, consciência e religião. (ANSA).