Pela primeira vez dois afrodescendentes disputarão a vice-presidência na Colômbia: a esquerdista Francia Márquez, na chapa do senador e ex-guerrilheiro Gustavo Petro, favorito em todas as pesquisas presidenciais, e Luis Gilberto Murillo, ao lado do candidato de centro, Sergio Fajardo.
Ambos são ativistas ambientais e representam as regiões mais afastadas, excluídas, pobres e cercadas pela violência neste país de 50 milhões de habitantes, onde 9,3% se reconhecem com negros.
“Obrigada, Gustavo Petro, por me atribuir essa responsabilidade, que sei que é grande, em nome das mulheres; em nome das ninguéns e dos ninguéns”, declarou Márquez durante o anúncio nesta quarta-feira (23) em um hotel de Bogotá.
Nas primárias de 13 de março, Márquez obteve a segunda maior votação (785 mil), atrás apenas de Petro (4,4 milhões), e assim os dois se lançaram na candidatura presidencial do Pacto Histórico, a aliança das esquerdas, para as eleições de 29 de maio.
Diante do declínio da direita, que tradicionalmente governa a Colômbia, as últimas eleições representaram um histórico avanço para a oposição liderada por Pero.
Com seu punho erguido e poucos sorrisos, a advogada de 40 anos garantiu que trabalhará pelas mulheres, oe negros, os indígenas, os camponeses, a população LGBTI e os jovens que protestaram em massa contra o governo conservador de Iván Duque em 2021.
Petro anunciou que Márquez ficará também à frente do Ministério da Igualdade que pretende criar se ganhar a presidência, como antecipam todas as pesquisas.
“Da escravidão ao poder (…), da exclusão à democracia, das violências permanentes à paz”, declarou o ex-guerrilheiro de 61 anos.
Márquez sobreviveu em 2019 a um atentado com granadas e rajadas de fuzil por sua defesa da água em comunidades afrodescendentes. Um ano antes, havia recebido o Prêmio Goldman – conhecido como o “Nobel do meio ambiente” – por sua luta ambiental no departamento de Cauca, onde nasceu.
Por sua vez, Fajardo nomeou como candidato a vice-presidente Murillo, de 55 anos, um engenheiro de minas formado em Moscou, ex-ministro do Meio Ambiente, antigo consultor da Agência de Desenvolvimento de Estados Unidos e ex-governador de Chocó, o departamento mais pobre (68%) do país.
“Quero ser o vice-presidente das regiões, da gente que não teve voz, da gente que quer se ver refletida, representada no governo nacional, pois não há outra maneira de avançar no caminho da paz”, afirmou ele durante uma entrevista.
Fajardo ganhou a consulta das forças de centro com 723.475 votos e enfrentará Petro e o direitista Federico Gutiérrez, que ainda não definiu seu companheiro de chapa.