Can Dündar e Erdem Gül, dois jornalistas da oposição turcos, foram condenados nesta sexta-feira por um tribunal de Istambul a 5 anos e dez meses e 5 anos de prisão, respectivamente, em um julgamento emblemático para a liberdade de imprensa na Turquia.

Os dois homens foram absolvidos da acusação de “espionagem”, mas acabaram sendo condenados por “divulgar segredos de Estado” e revelarem que o governo islâmico-conservador do presidente Recep Tayyip Erdogan forneceu armas a grupos extremistas na Síria, segundo a imprensa turca.

O tribunal de recurso ainda deverá se pronunciar sobre o caso antes da prisão de ambos.

“Vamos continuar a fazer o nosso trabalho de jornalista, apesar de todas essas tentativas de nos calarem. Somos obrigados a preservar a coragem em nosso país”, declarou Dündar a jornalistas após o veredicto.

Horas antes da divulgação do veredicto, um homem atirou contra Dündar diante das câmeras na entrada do tribunal. Apresentado pela imprensa turca como Murat Sahin, o agressor disparou várias vezes com uma pistola, ferindo um jornalista, antes de largar sua arma diante das câmeras e se entregar, tranquilamente, à Polícia.

“Eu não conheço essa pessoa, mas conheço muito bem aqueles que nos tomam como alvos”, disse Dündar à imprensa, em referência à política repressiva de Erdogan para com seus opositores.

O homem teria gritado “traidor!” antes de atirar nas pernas de Dündar, em uma tentativa de feri-lo, e não matá-lo, segundo o canal CNN-Turk.

Um operário que permaneceu por muito tempo desempregado, Murat Sahin disse à Polícia que queria dar “uma lição” a Dündar e que agiu sozinho.

“Eu não queria matá-lo, mas poderia tê-lo feito”, vangloriou-se, segundo a CNN-Türk.

O ataque foi condenado por toda a classe política.

“Aqueles que atacam os jornalistas que fazem seu trabalho com discursos do ódio são responsáveis pelo ataque contra Can Dündar”, tuitou o líder da oposição laica, Kemal Kiliçdaroglu.

Can Dündar, diretor de redação do jornal Cumhuriyet, e Erdem Gül, diretor da sucursal de Ancara, muito críticos do poder conservador-islâmico do presidente Erdogan, publicaram em maio de 2014 uma reportagem, com fotos e um vídeo, sobre a entrega de armas aos rebeldes islamitas sírios em janeiro de 2014.

O vídeo mostrava caminhões do Serviço Secreto Turco (MIT) cheios de armas.

A matéria provocou a revolta de Erdogan. Desde o início do conflito sírio, ele nega que a Turquia esteja apoiando os movimentos radicais contrários ao governo de Bashar al-Assad.

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