Ao abrir mão da sua própria candidatura e lançar à Presidência da República o nome de Henrique Meirelles, seu ex-ministro da Fazenda, o presidente Michel Temer discursou que ficaria “orgulhosíssimo” se ele “fosse proclamado, pelo voto popular, presidente da República”. A plateia, composta de políticos do MDB, aplaudiu. De acordo com o senador Romero Jucá (MDB-RR), principal patrocinador político da opção por Meirelles dentro do MDB, o ex-ministro terá agora 60 dias para se viabilizar e ter seu nome confirmado na convenção do partido em junho. O lançamento do seu nome para substituir Temer surpreendeu o próprio Meirelles. Quando ele deixou o PSD e filiou-se ao MDB, no início de abril, o acerto feito com Temer previa que ambos trabalhariam seus nomes, e somente na convenção, seria batido o martelo sobre qual dos dois sairia da disputa e quem continuaria. A manutenção das denúncias contra o presidente e os problemas que o governo enfrenta anteciparam a passagem de bastão.

Uma reunião com a bancada do MDB no Senado há duas semanas marcou o momento em que Temer perdeu as chances de manter sua candidatura com o apoio do partido. Presidida por Jucá, a reunião contava com 13 dos 19 senadores emedebistas. Os parlamentares reclamavam das dificuldades que vinham tendo nos seus estados para seguir com a candidatura de Temer à reeleição. Então, Jucá perguntou a Meirelles: “Você quer mesmo ser candidato? Está com sangue nos olhos?”. Diante da resposta afirmativa do ex-ministro da Fazenda, Jucá prosseguiu: “Então, vamos botar isso na rua já”.

Desde o início, Temer procurou trabalhar com um leque de alternativas para que o legado de seu governo fosse defendido nos palanques. Uma delas era ele próprio ser candidato à Presidência, mas nunca descartou totalmente Meirelles. Tanto que ele mesmo autorizou que o ex-ministro se filiasse ao MDB para dividir com ele a possibilidade de disputarem o pleito juntos. Chegou a pensar em ter Meirelles como seu vice. Agora, Temer considera que Meirelles vai precisar dele para alavancar a candidatura. Meirelles é novato no partido e Temer foi presidente nacional do MDB por anos. Considera ter, portanto, comando sobre a legenda, algo de que Meirelles vai precisar para evitar que cada cacique regional siga seu próprio rumo e o abandone pelo caminho. Temer acha que pode ser a liga com os caciques regionais do MDB. Em troca, espera que Meirelles o defenda na campanha.

O último ponto a favor de Meirelles é dinheiro. Milionário, ele banca a sua candidatura, sem provocar custos maiores para o partido. E libera dinheiro do fundo eleitoral e partidário para as campanhas estaduais. Um dado fundamental numa eleição que, com as novas regras de financiamento, será de cofres partidários mais vazios. Segundo um assessor do ex-ministro, essa é mesmo a sua intenção. “Ele tem essa condição financeira e disposição para isso”, disse o assessor.

“A essa altura, é tudo japonês”, disse a ISTOÉ a senadora Simone Tebet (MDB-MS), ao analisar as chances do ex-ministro da Fazenda. “Não é algo que empolgue muito, mas por que não?”, continua ela. Repetindo a avaliação de parte do MDB, Tebet considera que, neste momento, o quadro eleitoral está totalmente indefinido e Meirelles terá oportunidades de crescimento.

Sola de sapato

Meirelles tem agora alguns desafios. O primeiro é conquistar o próprio MDB. Uma dissidência contra sua candidatura abriu-se desde o início, tendo à frente o presidente do Senado, Eunício Oliveira (CE) e o senador Renan Calheiros (AL), que trabalham por alianças com o PT, por exemplo. A segunda é tornar sua pretensão conhecida nacionalmente. Para isso, Meirelles está iniciando uma agenda de candidato. Ele já tem quase certo o seu marqueteiro, que deverá ser Chico Mendez. No sábado 26, Meirelles foi à Natal, capital do Rio Grande do Norte e participou da festa de comemoração dos 100 anos da Assembleia de Deus. Uma agenda bem diversa dos seminários e encontros econômicos em hotéis de luxo com que se acostumou ao longo da vida. Agora, vai ter que gastar, além de dinheiro do próprio bolso, sola de sapato pelo País afora.