Como produzir rapidamente mais vacinas para aliviar a escassez que retarda a luta contra a pandemia do coronavírus? Os principais atores do setor reúnem-se durante dois dias na próxima semana para tentar encontrar respostas concretas para este problema.

“Trata-se de destacar as deficiências que temos no momento nas cadeias de suprimentos de reagentes, matérias-primas, produtos que são necessários para fazer as vacinas”, explicou a chefe científica da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, em coletiva de imprensa na sexta-feira.

Com a pandemia de covid-19, que causou mais de 2,58 milhões de mortes em 14 meses, a demanda por esses insumos atingiu níveis sem precedentes.

A indústria farmacêutica espera fabricar 10 bilhões de doses anticovid este ano, ou o dobro da capacidade de fabricação de todas as vacinas combinadas em 2019.

Mas, para isso, não são apenas necessárias as substâncias necessárias em quantidades sem precedentes, mas também o vidro para os frascos, plástico ou tampas, em um contexto em que as cadeias de abastecimento são altamente afetadas em todo o mundo justamente por causa da pandemia, lembra a Dra. Swaminathan.

“A cúpula realmente se concentrará na antecipação, carências, como elas podem ser preenchidas e em encontrar soluções”, explica, “porque isso pode fazer a diferença no curto prazo”.

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Na segunda e terça-feira, vão se reunir os parceiros do dispositivo Covax – criado para garantir o acesso equitativo às vacinas – (OMS, GAVI Vaccine Alliance e CEPI, seu braço de pesquisa), a Federação Internacional da Indústria Farmacêutica (IFPMA), além de fabricantes de países em desenvolvimento, especialistas e governos.

– Cooperação entre rivais –

Pressionados por governos e opinião pública, grandes grupos farmacêuticos, normalmente concorrentes ferozes, multiplicaram acordos para fabricar esses injetáveis juntos.

A francesa Sanofi vai ajudar a americana-alemã Pfizer/BioNTech, e também a Johnson & Johnson, a fornecer mais doses. A americana MSD (Merck Sharp&Dohme) também vai produzir com sua compatriota Johnson & Johnson.

A suíça Novartis colabora com a Pfizer e também com a alemã CureVac, assim como a Bayer.

Por enquanto, é difícil estimar o impacto exato desses acordos na produção. Mas “são muito bons e gostaríamos de ver mais ao redor do mundo”, disse Swaminathan.

“Temos que examinar as capacidades de envasamento e finalização na Ásia, África e América Latina e usar suas fábricas para aumentar a oferta”, insistiu.

Marie-Paule Kieny, diretora de pesquisas do Inserm na França, concorda com a ideia.

“Existem muitos fabricantes de medicamentos genéricos que têm as habilidades e conhecimentos, que podem ajudar no processo”, reiterou.

No entanto, ainda há problemas de licenças e direitos de propriedade intelectual – que permitem que os gigantes farmacêuticos ganhem dinheiro após terem investido pesadamente em pesquisa, às vezes com apoio significativo dos Estados.

A proposta da Índia e da África do Sul de suspender temporariamente as patentes, submetida à OMS, parece bloqueada, apesar das pressões de ONGs e da própria instituição.


– De 2% a 3% –

As medidas para aumentar a produção de vacinas devem permitir a imunização nos países mais desfavorecidos.

Mas enquanto as campanhas de vacinação começaram no final de dezembro em muitos países ricos, as primeiras doses do sistema Covax foram distribuídas apenas esta semana.

Cerca de 20 milhões de doses foram distribuídas em 20 países. Outros 31 países entrarão na lista com 14,4 milhões de doses na próxima semana.

“Este é um avanço encorajador, mas o volume de doses distribuídas pelo Covax ainda é relativamente pequeno”, alertou o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

Ele também destacou que as entregas planejadas pelo Covax até o final de maio representam apenas 2% a 3% da população dos países destinatários, ao contrário de outros países que estão “se movendo rapidamente para vacinar toda a sua população nos próximos meses” .


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