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Euclides da Cunha dizia que o sertanejo é acima de tudo um forte. E eu digo: o brasileiro é acima de tudo um preconceituoso.

Bem, talvez não acima de tudo, mas pelo menos na hora de comprar carro.

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Eu simplesmente não entendo, por exemplo, o preconceito que existe contra a Peugeot. Seus carros são bons, às vezes melhores do que os da concorrência, mas vendem muito pouco. Bem menos do que merecem.

Talvez o brasileiro não saiba, mas o primeiro carro que pôs as rodas nesse país foi um Peugeot. Trazido por Alberto Santos Dumont (ele mesmo), um Peugeot com motor Daimler V2 de 3,5 cavalos de potência desembarcou no Porto de Santos no dia 25/11/1891. Portanto, além de ter sido o Pai da Aviação, Santos Dumont foi também o Pai do Automóvel no Brasil.

Nos anos 1990, quando o mercado brasileiro foi aberto para a importação, os brasileiros tinham preconceito contra a Peugeot por ser “carro de argentino”. Uma referência ao sucesso que a marca fazia na Argentina. Claro que a dinâmica do mercado construiu e destruiu reputações de lá para cá. E a Peugeot foi a grande culpada de muitas de suas crises. Posicionamentos errados e mau atendimento na rede de concessionárias derrubaram a marca. Mas isso passou. Hoje a rede Peugeot funciona bem e seus carros são bons.

Atualmente, a Peugeot tem dois carros que eu compraria de olhos fechados. Ah, mas é francês. Dizem até que o consumidor inteligente compra carro alemão e perfume francês. E que o burro faz o contrário. Como piada é interessante. Mas se considerarmos que a Volkswagen é alemã e até ontem vendia a Kombi, não é bem assim. Não vou entrar no mérito dos perfumes porque não sou especialista. Portanto, os carros franceses que eu recomendo de olhos fechados são o 208 e seu derivado 2008.

O caso do 2008 é o mais gritante. O carro tem esse nome não porque seja um projeto velho, de oito anos atrás, como já me falaram. Mas sim porque a Peugeot usa sempre o zero entre o nome do modelo e o número da geração para identificar seus produtos. E usa dois zeros para identificar que se trata de um crossover. Esse tipo de carro, por sua vez, é a mistura de um SUV com qualquer outra carroceria. Um crossover é uma espécie de SUV light. O 2008 é uma mistura de perua com SUV. Seu nome significa que é um carro pequeno (2) em sua oitava geração (8). Assim, o hatch foi batizado de 208. E o crossover ganhou o nome de 2008.

Esse crossover é um legítimo francês, mas é produzido em Porto Real (RJ). Um franco-brasileiro que vende seis vezes menos do que o Honda HR-V. E sofre para vender o mesmo que o ultrapassado Hyundai Tucson. O Peugeot 2008 é ótimo, tem garantia de seis anos (a maior entre todos os concorrentes), exibe um visual atraente e seus preços são muito competitivos. Ele tem cinco versões com motor flex 1.6 de 122 cavalos. Seu preço vai de R$ 71.890 a R$ 84.190. A versão mais barata já vem com tela multimídia, piloto automático e airbags laterais.

Assim como o 208, o Peugeot 2008 tem um volante levíssimo e bem pequeno. Ele fica numa posição mais baixa se comparada à de outros carros. Tão baixa que você vê o quadro de instrumentos por cima do volante e não por dentro. O resultado é uma condução deliciosa, que agrada a homens e mulheres, a quem quer guiar rápido ou a quem quer apenas passear.

Mas o bolo da cereja é o 2008 Griffe THP. Ele tem um motor flex 1.6 turbo e entrega excelentes 173 cavalos de potência. Quem gosta de acelerar vai adorar conduzir o 2008 com seu câmbio manual de seis marchas. Ele tem assistente de partida em subida, controle de tração/estabilidade e airbags de cortina.

Quanto ao hatch 208, tem todas essas virtudes do 2008, mas carrega a má fama deixada pelo 207, seu antecessor. Uma bobagem, pois o 208 é tudo de bom. Para além de ser um dos hatches mais bonitos do mercado, é simplesmente o carro convencional mais econômico do Brasil. Com gasolina, ele faz 16,9 km/l na estrada e 15,1 km/l na cidade. Só perde para o Toyota Prius, que é híbrido (tem outro conceito) e custa R$ 119.950. O Peugeot 208 tem motor flex 1.2 de apenas três cilindros, mas com ótimos com 90 cavalos de potência. Nessa configuração, seu preço vai de R$ 50.790 a R$ 61.690.

No Brasil preconceituoso, muitas vezes as pessoas preferem desprezar a melhor compra para adquirir um carro-modinha. Não caia nessa. Se nem Santos Dumont teve esse preconceito há 125 anos, por que insistir em ignorar os bons carros da nova Peugeot?