Para muitas mulheres, a colocação de próteses de silicone nas mamas é um sonho estético. No entanto, como qualquer intervenção cirúrgica, o procedimento apresenta riscos, e um deles vem ganhando mais visibilidade nos últimos tempos: a Doença do Silicone.

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Segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, a remoção de implantes de mama aumentou 33% no Brasil entre 2018 e 2019. E apesar de ainda ser pouco documentada, a Doença do Silicone pode ser a causa de uma parcela desses explantes

O que é a Doença do Silicone?

De acordo com André Maranhão, cirurgião plástico e ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), o termo “Doença do Silicone” ainda não é reconhecido pelo meio médico — e não possui CID — por conta da “dificuldade de estabelecer uma correlação laboratorial e de exames complementares que diagnostiquem a situação”.

No entanto, trata-se de um conjunto de sintomas deteriorantes — que podem surgir entre três a 30 dias após o implante, segundo o especialista — com um diagnóstico complexo que vem sendo cada vez mais difundido. 

Causas e sintomas

Em sua conta no Instagram, a cirurgiã plástica membra da SBCP e experiente em explantes de silicone Fabiana Catherino explica que a causa da Doença do Silicone é o gel bleeding, ou “sangramento de gel”.

Ele acontece quando o revestimento dos implantes — que protege o gel de silicone — apresenta porosidade e permite que o material interno o transponha. “O silicone sai da capa da prótese e migra pelo corpo, causando toxicidade e dano aos tecidos, mesmo que a prótese esteja íntegra”, detalha a especialista. 

Ao atingir alguns órgãos-alvo, o gel bleeding pode ocasionar sintomas como:

• Queda de cabelo;

• Fadiga;

Ansiedade;

• Depressão;

• Inchaço;

• Dores articulares;

• Insônia e sudorese noturna;

• Inflamação crônica da bexiga;

• Nevoeiro cerebral.

Muitos desses sintomas foram vivenciados pela dentista e Miss Baixada Santista Giovanna Coltro, de 24 anos, que também relatou ter tido frio excessivo, secura nos olhos e tremores inexplicáveis.

“Eu tinha que segurar as coisas com as duas mãos. Com uma eu não conseguia, de tanto que tremia”, revelou à IstoÉ, explicando como a doença atrapalhou seu dia a dia como profissional da saúde.

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No início de 2020, dois anos após a colocação de suas próteses, Giovanna foi arrebatada pelos sintomas que a impediam de viver como antes. Em outubro de 2021 — após quase dois anos intensos na busca por um diagnóstico —, ela realizou a cirurgia de explante, quando pôde ver o gel bleeding com os próprios olhos.

“Minha prótese estava murcha e com bolhas de ar dentro quando eu tirei. Esse gel estava vazando no meu corpo e me intoxicando.”

Uma das próteses de Giovanna após a retirada (Crédito:Acervo pessoal)

Diagnóstico

Ainda não existem exames que comprovem a existência da Doença do Silicone, portanto, seu diagnóstico é feito por exclusão, após exames e consultas com diversos especialistas.

“Uma vez não encontrado nenhum diagnóstico específico, clínico ou reumatológico, e após avaliação psicológica de normalidade (afastando fatores de estresse momentâneo), só resta a opção de atribuir [os sintomas] a uma relação com o uso de implantes”, explica André.

Tratamento

Atualmente, a única opção de tratamento possível para a Doença do Silicone é a cirurgia de explante das próteses mamárias. O cirurgião explica que, com boa preparação, os riscos da cirurgia são baixos e geralmente relacionados à flacidez de pele remanescente. 

“Há pacientes que, com a retração de pele, podem apenas ter uma incisão no sulco submamário. Outras podem ter grande flacidez, sendo necessária além da remoção, uma mamoplastia de equilíbrio. Outras podem receber enxertia de gordura para reposição de volume”, detalha o especialista.

Após a cirurgia, o alívio de alguns sintomas — como a queimação nas costas, no caso de Giovanna — costuma ser imediato, enquanto outros — como o inchaço facial e os tremores — desaparecem ao longo das semanas seguintes.

Em seu site “A Doença do Silicone”, Fabiana relata, entretanto, uma possível dificuldade no processo de diagnóstico e tratamento: “O cirurgião que procurou acredita na doença?”, questiona.  Ela explica que, em detrimento da cirurgia, um especialista pode encaminhar seus pacientes a psicólogos e psiquiatras, acreditando encarar sintomas de transtornos como ansiedade e depressão.

Essa descrença foi parte da experiência de Giovanna, que recebeu ao menos três diagnósticos de ansiedade: do cirurgião plástico que havia implantado suas próteses, de um psiquiatra e de um psicólogo. “O cirurgião que colocou meu silicone deu de ombros”, conta. “Ele disse que poderia acontecer [a Doença do Silicone], mas era muito raro.”

Doença do Silicone X Síndrome ASIA: qual é a diferença?

Apesar de parecidas, a Doença do Silicone e a Síndrome ASIA não devem ser confundidas. 

ASIA é a abreviação do inglês de “Síndrome Autoimune Induzida por Adjuvantes”. Nesse caso, o silicone pode atuar como adjuvante, bem como outros implantes,  como “fragmentos infecciosos indutores de imunogenicidade (vacinas), hormônios, alumínio de marcapassos cardíacos e próteses ortopédicas”, de acordo com André.

Ele destaca que também não há exame laboratorial ou de imagem que seja capaz de diagnosticar a Síndrome ASIA, e seu diagnóstico é feito por meio do preenchimento de critérios clínicos.

É possível prevenir a Doença do Silicone?

No presente momento, não há como prevenir a Doença do Silicone, que está relacionada a todas as marcas e modelos de próteses, segundo o cirurgião.

“O que se recomenda é ter uma boa conversa com o cirurgião para saber se realmente o desejo é maior que as inseguranças, além de não aceitar imposições sociais para a colocação de implantes. Por fim, não aceitar consultas de operadoras de saúde ou cirurgiões que atendam em cinco minutos, como uma ‘fábrica em série’, não se importando com detalhes de cada paciente”, aponta.

E finaliza afirmando que, apesar dos riscos, os implantes de silicone são padrão ouro de tratamento para a melhoria dos aspectos das mamas de milhões de mulheres, com certificado de segurança em todas as agências regulatórias do mundo. “O grande recado é fazer qualquer cirurgia com um cirurgião plástico de confiança, que dê atenção às suas demandas e consiga esclarecer e deixar a paciente segura para qualquer que seja a decisão.”