 "Reprodução/Instagram.")
Fernanda Keulla, de 39 anos, usou as redes sociais para contar aos seus seguidores que foi diagnosticada com Doença de Sjögren. A apresentadora e vencedora do “Big Brother Brasil 13”, da TV Globo, detalhou a situação por meio de uma postagem no Instagram.
“Você já ouviu em falar em Síndrome de Sjögren? Não? Vou relatar um pouco do que venho passando e do meu diagnóstico com essa doença autoimune. Resolvi desabafar, compartilhar com vocês para que sirva como um alerta. Nossa saúde é o bem mais precioso que Deus nos deu, vamos cuidar dela, né?”, escreveu a apresentadora.
Keulla contou que se sentia cansada e fadigada com frequência, o que motivou a procura por vários especialistas para entender o que estava acontecendo.
“O meu reumatologista me virou do avesso e fechou o diagnóstico. Esta é uma doença autoimune rara, ou seja, o meu organismo ataca a si mesmo. É uma doença crônica, mas é tratável”.
Em entrevista à IstoÉ Gente, o médico Edgar Reis*, reumatologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, membro da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), afirma primeiramente que a doença ainda é conhecida popularmente como uma “síndrome”, porém o termo não deve ser mais usado.
Além disso, o especialista revela que, se não tratada adequadamente, a Doença de Sjögren pode evoluir para um linfoma não Hodgkin – um câncer no sistema linfático. “Especialmente quando há uma inflamação crônica, uma doença não controlada”, conta.
O que é Doença de Sjögren? Entenda a condição autoimune
Doença de Sjögren uma doença autoimune, ou seja, o sistema imunológico do paciente produz anticorpos e substâncias inflamatórias que atacam algumas estruturas do próprio organismo.
No caso do Sjögren, há uma predileção desses anticorpos, dessas moléculas inflamatórias, em atacar principalmente aquelas glândulas que produzem secreções, especialmente as glândulas exóquinas, que são as que produzem as lágrimas, a saliva, o suor, a secreção vaginal.
Sintomas da Doença de Sjögren: saiba identificar
A Doença de Sjögren pode provocar:
- olho seco;
- boca seca;
- sensação de areia ou de cisco no olho o tempo inteiro;
- secura genital, levando eventualmente à dor durante a relação sexual;
- secura de pele.
A doença também poder acometer outros órgãos e sistemas, levando também à fadiga, dor nas articulações, eventualmente de maneira mais rara, mas também pode levar a alterações nos pulmões, nos rins, ou mesmo no sistema nervoso central ou periférico.
Estatísticas e desafios no diagnóstico da Doença de Sjögren
Segundo o médico Edgar Reis, a Doença de Sjögren é muito mais comum em mulheres do que em homens, principalmente a partir dos 40 anos de idade.
“Estima-se que ela afeta 0,5% da população mundial, mas o dado não é tão fidedigno, porque não há muitos estudos epidemiológicos que confirmem a sua incidência e prevalência”, ressalta.
“Além disso, é uma doença com sintomas inespecíficos, que podem ser confundidos com outras doenças, que também dão olho e boca secos, ou medicações que causam esse desconforto tanto na boca quanto no olho”, explica.
Como é feito o diagnóstico
De acordo com o médico, o mais importante para o diagnóstico da Doença de Sjögren é uma boa avaliação clínica, uma boa conversa com o paciente e só depois disso alguns exames específicos podem ser solicitados.
Os exames são:
- o FAN;
- o anti-RO;
- anti-LA.
Mas é muito importante ressaltar que esses auto-anticorpos podem estar presentes em outras doenças.
Então, para confirmar o diagnóstico, podem ser feitos alguns testes:
- Teste oftalmológico para avaliar o grau de secura ocular.
- Testes para medir a quantidade de saliva.
- Ultrassonografia da glândula salivar.
- Cintilografia para avaliar se a glândula que produz saliva está funcionando normalmente ou se há inflamação.
- Biópsia da glândula salivar, que consiste na retirada de um pequeno pedaço do lábio interno inferior para análise.
Alimentação e Doença de Sjögren: O que evitar?
Quem recebeu o diagnóstico de Doença de Sjögren deve evitar:
- Alimentos ultraprocessados.
- Alimentos ricos em frituras e gorduras, que podem piorar os níveis de colesterol no sangue.
- Alimentos ricos em açúcar, que podem elevar os níveis de açúcar no sangue.
- Bebidas alcoólicas, cafeína e alimentos muito salgados ou condimentados.
- Alimentos que sejam muito duros ou secos, pois podem causar desconforto devido à boca seca ou dificuldade para engolir.
Tratamento
- uso de lágrimas e salivas artificiais;
- medicações chamadas imunossupressoras;
- colírios imunossupressores, como colírios de ciclospolina ou de tacromimos.
Evolução da Doença de Sjögren
A Doença de Sjögren pode ser classificada como jovem primária, quando é somente a Doença de Sjögren, ou pode ser classificada como Doença de Sjögren secundária, quando ela é associada a outras doenças, como artrite reumatóide, lúpus ou esclerose sistêmica.
Doença de Sjögren pode virar câncer
O especialista reforça que, se não tratada, a Doença de Sjögren pode evoluir para um quadro mais grave, como um linfoma não Hodgkin – um câncer no sistema linfático.
“Isso ocorre porque há um estímulo constante no sistema imunológico, especialmente da célula chamada linfócito B. E isso pode levar a alteração nessas células de defesa, levando a uma proliferação anômala desordenada”, afirma.
Sinais de que a Doença de Sjögren virou câncer
Se a Doença de Sjögren não estiver controlada, se o paciente não fizer exames periódicos, a chance de desenvolver o linfoma é maior. Por isso, é necessário manter as consultas regulares ao hematologista, para que o profissional veja se houve um aumento persistente das parótidas e das glândulas salivárias, principalmente de forma simétrica e por tempo prolongado.
“Algumas alterações em exames laboratoriais, que nós acompanhamos durante a doença, é o de globulinas, complementos célicos, C3, C4. Presença, por exemplo, de linfonodos persistentes, que são as ínguas. Então, linfonodos celicais, linfonodos em outros locais também”, aponta.
Algumas manifestações sistêmicas da doença e algumas alterações na biópsia de glândula salivar também fazem com que os médicos tenham mais atenção em relação ao risco de desenvolvimento de linfoma.
Como evitar que a Doença de Sjögren vire câncer
“Para reduzir esse risco é muito importante que se trate a doença de maneira adequada, que seja feito um acompanhamento regular com o hematologista e que o paciente relate qualquer sintoma novo ou persistente”, reitera.
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