Documentos revelam que Mengele queria ir à Alemanha em 1959

Documentos revelam que Mengele queria ir à Alemanha em 1959

"CriminosoPapéis inéditos indicam que autoridades de Brasil, Argentina e Alemanha tinham pistas do paradeiro do procurado criminoso nazista. Mesmo assim, ele permaneceu livre até sua morte em São Paulo.Reportagem da emissora de televisão pública alemã MDR veiculada nesta terça-feira (06/05) revelou documentos da polícia argentina inéditos indicando que em fevereiro de 1959 o médico e assassino em massa nazista Josef Mengele queria viajar da Argentina para a Alemanha Ocidental usando seu nome verdadeiro.

Mengele foi apelidado de "anjo da morte” por sua atuação no campo de concentração de Auschwitz, onde tinha a palavra final sobre o destino de prisioneiros. No local, o médico e oficial nazista realizou experimentos macabros, inspirado pelo ideal de eugenia que guiou a pesquisa médica durante o Terceiro Reich.

O fichário da polícia argentina até agora desconhecido contém uma solicitação do alemão dirigida às autoridades argentinas, que não havia sido documentada anteriormente. Na Alemanha, Mengele aparentemente queria visitar seu pai, que estava doente na época.

"Isso tem um significado histórico, um significado muito alto", disse o historiador alemão Bogdan Musial à emissora MDR. "Saber esses detalhes sobre o que aconteceu com ele depois de 1945 é muito interessante. É algo que ainda não tinha sido investigado com tantos detalhes."

Os documentos argentinos foram encontrados e fotografados pela reportagem da MDR na casa de um colecionador. "Esses documentos vêm do acervo da Polícia Federal Argentina", diz o colecionador, que deseja permanecer no anonimato. "Aqui está escrito como as coisas aconteceram, com fatos e datas exatas."

Segundo a MDR, nos vários arquivos de Buenos Aires não há cópias dos arquivos policiais revelados agora. Mas trechos de texto idênticos podem ser encontrados em outros documentos – o que seria um indício de que os papéis agora revelados são genuínos.

Argentina sabia da ida de Mengele ao Paraguai

O arquivo também mostra que a polícia argentina foi aparentemente informada já em janeiro de 1960 que Mengele havia fugido para o Paraguai. "É interessante que a Argentina soubesse onde ele estava. Eu também não sabia", diz o especialista Bogdan Musial. Naquele mesmo ano, Mengele fugiu em seguida para o Brasil.

Mengele teria recebido, no final da década de 50, uma denúncia de que alguém estava em seu encalço. Ele fazia parte de uma rede de ex-nazistas que apoiavam uns aos outros. Enquanto Mengele fugiu para o Paraguai em 1959, Adolf Eichmann – um dos principais organizadores do Holocausto – permaneceu em Buenos Aires, onde foi capturado pelo Mossad, o serviço secreto israelense.

Polícia brasileira pediu documentos sobre Mengele

O arquivo argentino mostra que em 1963 a polícia brasileira solicitou todos os dados sobre Mengele, como impressões digitais e fotografias, à polícia argentina. Aparentemente, as autoridades brasileiras tinham suspeitas concretas de que Mengele estava no país.

O arquivo revelado também esclarece a conduta questionável das autoridades investigativas da Alemanha Ocidental e a falta de vontade de rastrear o notório criminoso nazista. "Vemos no caso de Mengele que a vontade, na verdade, não havia […] O objetivo era simplesmente não persegui-lo", continuou Bogdan Musial.

Os documentos teriam desaparecido há 20 anos. Seu conteúdo mostra que Mengele aparentemente não tinha muita preocupação em ser preso na Argentina. E isso levanta a suspeita de que as autoridades investigativas alemãs vinham conduzindo a busca por ele com pouco entusiasmo. E a polícia argentina aparentemente não tinha interesse em prender o criminoso de guerra.

Depois de fugir da Europa, Mengele foi primeiro para a Argentina, onde viveu sob a proteção de redes que ajudavam ex-nazistas a escapar de processos. No país, Mengele levou uma vida relativamente discreta e trabalhou em vários cargos, incluindo o de diretor administrativo de uma empresa que fabricava máquinas agrícolas.

Na década de 60, com o aumento da pressão das autoridades – incluindo do Mossad – e o perigo de ser descoberto, Mengele mudou-se para o Paraguai. Lá ele recebeu a cidadania paraguaia, o que lhe ofereceu uma certa segurança. Naquela época, o Paraguai estava sob a ditadura de Alfredo Stroessner, um regime que não era hostil aos antigos nazistas. Mengele continuou a viver sob um nome falso e evitava aparecer em público.

Mengele escapou das autoridades criminais

Mais tarde, Mengele se mudou para o Brasil, onde viveu por 18 anos, com nome falso, até sua morte em 1979. No Brasil, ele encontrou refúgio com uma família alemã que o ajudou a se esconder. Apesar da caçada internacional e dos esforços de caçadores de nazistas como Simon Wiesenthal para localizá-lo, Mengele conseguiu evitar a prisão.

Ele viveu em vários lugares remotos e levou uma vida reclusa, sempre com medo de ser descoberto. Mengele morreu de um derrame no Brasil em 1979 enquanto nadava na praia de Bertioga, em São Paulo.

Seu túmulo só foi descoberto em 1985. O arquivo policial redescoberto agora levanta novas questões sobre a responsabilidade compartilhada da Argentina, do Brasil e da Alemanha no fracasso do processo contra um dos mais brutais criminosos nazistas.

md/bl (mdr, ots)