Dez anos após a maior catástrofe climática e geotécnica do país, considerada pela ONU como o 8º maior deslizamento ocorrido no mundo nos últimos 100 anos, histórias de sobreviventes serão contadas através de suas rotinas de adaptação, quais desafios constituem as vidas de sobreviventes nos pós tragédia.

O termo “refugiados ambientais” será utilizado para referir as pessoas que são deslocadas dos espaços que residem devido a eventos climáticos que os tornam inabitáveis.

Estima-se que os eventos climáticos cada vez mais intensos no mundo elevem a migração de refugiados ambientais a níveis cada vez mais extremos, e dentro da complexidade e da severidade cada vez maiores de catástrofes climática, é possível e necessário que o debate sobre os refugiados ambientais passe a considerar pessoas em situação de deslocamento dentro do próprio país e até da mesma cidade.

Uma vez deslocados, o que vem depois é a complexa relação de ajustes sociais que quando ignorados transformam a vida dessas pessoas num estado permanente de conflito de convivência, refletindo sobre isso logo nos vem à mente a xenofobia, mas é quando os conflitos são gerados não pelo ódio ao estrangeiro, mas pela dificuldade de lidar com um vizinho vítima de uma mesma tragédia climática? Essas são as dinâmicas após a tragédia que rastrearemos nesse documentário.

Aos desabrigados e desalojados da tragédia climática de 2011, em Nova Friburgo, foram disponibilizados apartamentos sociais construídos em um complexo de moradias denominado “Terra Nova”, ao todo 2.180 moradias foram construídas para reabrigar cerca de 10 mil pessoas no local.

Construído em uma área isolada da cidade sem a mínima infraestrutura complementar, o Terra Nova foi a única alternativa de indenização para todos que perderam seus imóveis. E foi assim que pessoas de vários níveis da classe média a baixa, passaram a morar ali, logo o espaço acabou tornando-se o centro de uma grande convulsão social, aqueles que tinham alternativa abandonaram o local que, por sua vez, foi ficando cada vez mais degradado.

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O espaço feito para abrigar as vítimas da tragédia climática passou a figurar nos jornais apenas em decorrência das tragédias sociais. Atualmente, a marginalização do condomínio e a estigmatização dos moradores é um processo que ocorre com celeridade nas dinâmicas do município. O documentário mostrará um olhar de dentro para fora. Contando os conflitos que ali se desdobram, evidenciando a urgência de frear as mudanças climáticas expondo os conflitos sociais que as sucedem, deste lugar no mundo abordaremos a conexão entre tragédias climáticas e sociais.

O objetivo geral deste projeto é documentar a degradação ocorrida no condomínio Terra Nova após os 10 anos do desastre climático que devastou a Região Serrana do estado do Rio de Janeiro em 2011, destacando através desses desdobramentos a importância da preservação do meio ambiente como parte também fundamental para a preservação das relações humanas.

Na questão ambiental está o debate que abrange o futuro da humanidade, o interesse pelo tema e suas considerações críticas devem ser utilizados para produções de conteúdos que vislumbre reflexões sociais com potencial de ação.

O Brasil é uma potência ambiental e deve se colocar como tal em todos os espaços, inclusive na elaboração de conteúdo audiovisual sobre o tema.

“O interessante da nossa experiência dentro do Terra Nova foi observar como a comunidade se apoia e cria uma própria rede de conexões entre elas. Onde falta o poder público, sobre uma noção de comunidade entre os moradores”, diz Bernardo Dugin.

“Cada um a seu modo, tem desenvolvido uma nova forma de se adaptar e seguir em frente. São sobreviventes de uma tragédia e da continuidade dela, que repercute no descaso e no abandono do espaço”, afirmou Laiane Tavares.

O documentário será exibido, dia 26 de março, pelo canal do Youtube da Montagna Filmes e terá a narração da atriz Camila Amado.


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