A plasticidade da dança permite que alguns recursos habitualmente utilizados em filmes de super-heróis, como o 3D, sejam utilizados de maneira delicada.

O resultado é satisfatório, pois permite ao espectador ter uma noção espacial mais exata de uma coreografia. Foi assim em Pina (2011), documentário que Wim Wenders dirigiu sobre a alemã Pina Bausch (1940-2009), e também em Cunningham (2019), registro de Alla Kovgan sobre o trabalho do coreógrafo americano Merce Cunningham (1919-2009), filme que é uma das discretas atrações da 43ª Mostra Internacional de Cinema e que será exibido nesta terça, no IMS.

A experiência como montadora foi decisiva para que a russa Alla Kovgan soubesse quais trabalhos do coreógrafo deveriam ser reproduzidos a fim de se aproveitar melhor a terceira dimensão. A importância de Cunningham é inestimável por ter revolucionado a dança moderna ao descentralizar o espaço do palco, subvertendo a perspectiva renascentista. Seu apreço pela tecnologia permitiu que, já nos anos 1970, ele fosse um dos precursores do videodança. E, quando morreu, Cunningham trabalhava em um software para composição coreográfica.

Alla Kovgan reúne a última geração de dançarinos de Cunningham (liderada pela diretora assistente de coreografia da Merce Cunningham Dance Company, Jennifer Goggans) para apresentar trabalhos de referência do repertório do americano. O filme concentra-se nas três décadas de 1942 a 1972, quando o coreógrafo estava solidificando sua reputação. E, graças ao 3D, Cunningham permite uma aproximação desses trabalhos que qualquer público jamais esteve antes.

A cineasta acerta também ao apresentar as danças em locais pouco usuais, como um túnel, uma floresta, no alto de um prédio. Isso facilita ao espectador entender a proximidade dos trabalhos de Merce Cunningham com o dia a dia. Além disso, Alla alterna as coreografias com imagens de arquivo, que detalham a importância da parceria do americano com o compositor John Cage (seu parceiro vitalício) e o artista visual Robert Rauschenberg, essenciais na revolução apontada por Cunningham.

A dramaturgia de Cage, unida aos cenários criados por Rauschenberg, permitiram que determinados espetáculos de dança de Cunningham se tornassem verdadeiras obras-primas. E simplesmente ao mostrar o mundo como ele é.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.