Na manhã de 8 de novembro de 2018, o incêndio denominado Camp começou no condado de Butte, ao norte de Sacramento, capital da Califórnia. Em horas, pulou de 200 acres para 20 mil acres, engolindo a cidade de Paradise. A cidade de 26 mil habitantes foi evacuada, com moradores em pânico atravessando espessas cortinas de fumaça, cercados de fogo por todo lado. São essas as imagens, de arquivos pessoais, que abrem o documentário Paradise: Incêndios na Califórnia, dirigido por Ron Howard, que será exibido nesta segunda (14), às 21h45, no National Geographic.

“As palavras não são suficientes para expressar o que vi quando cheguei lá, uns dez dias depois”, disse o diretor em evento da Associação de Críticos de Televisão, realizado por videoconferência. “Mas percebi que muitas pessoas queriam falar sobre o incêndio, como forma de catarse. Queriam compartilhar os vídeos que fizeram. E, quando viram que não queríamos fazer um filme apenas sobre a crise, mas sobre as pessoas lidando com ela, ficou ainda mais fácil. Sou muito grato àquela comunidade.”

A vida não era fácil para os sobreviventes naquele momento. Muitos perderam pessoas queridas – 85 pessoas morreram no incêndio, o pior da história da Califórnia e o mais mortal dos EUA nos últimos 100 anos. Vários escaparam por pouco. Quase todos perderam suas casas, já que 95% das construções de Paradise foram destruídas. O incêndio que vitimou a cidade de Paradise foi causado por uma linha de transmissão de energia que soltou faíscas. A empresa de energia da região foi responsabilizada. Mas a falha encontrou as condições ideais para um incêndio de enormes proporções. A Califórnia ainda não se recuperou de cinco anos de seca, e em 2018 o volume de chuva tinha sido muito menor do que o normal, que já é pouco.

O incêndio é apenas o início. O documentário foca mesmo no depois, em como lidar com tudo isso, o que fazer com a vida, como reconstruir. Aliás, seria possível reconstruir? Para Steve “Woody” Culleton, um dos personagens do filme, não havia dúvida de que sim. “Eu era o bêbado da cidade. Mas depois de alguns anos em Paradise, fiquei sóbrio, me casei, ganhei uma neta e acabei eleito para cargos públicos, sendo inclusive prefeito”, disse ele. “Por isso, para mim, é importante continuar aqui. É minha casa. É onde coloquei minha vida de volta nos eixos. Somos uma grande família aqui. Por isso quero continuar.”

Foi o espírito da comunidade que encantou Howard. É uma população que aparece para montar uma árvore de Natal, que luta para fazer a formatura no campo de futebol da escola, ameaçado por árvores agora mortas. “É uma coisa sobreviver a uma tragédia como essa, e é outra conseguir prosperar enquanto comunidade ou indivíduo”, disse Howard. “Eu não tinha ideia de quais seriam os obstáculos, nunca passei por nada parecido. Mas acho que o filme coloca várias questões, como o que esperamos da sociedade? E de nós mesmos, nossos vizinhos, do governo federal, do governo local? Havia muito mais obstáculos do que eu imaginava para a recuperação.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.