Depois de um fim de semana inteiro de doações feitas por organizações e grupos de amigos às pessoas em situação de rua do centro de São Paulo, a capital paulista começou a semana ontem com pilhas de cobertores forrando as calçadas, deixados nas sarjetas após a noite de uso.

Os cobertores se amontoaram no corredor que começa na Praça da Sé, segue pelo Pátio do Colégio, avança pela Rua Boa Vista e termina na Praça do Patriarca. Conforme a reportagem mostrou na segunda-feira, 20, no fim de semana moradores de rua chegaram a se agredir para receber as doações, que vieram às centenas, motivadas pela onda de frio e pelas notícias de mortes supostamente ligadas à baixa temperatura.

As montanhas de cobertor surgiram depois de a Prefeitura ser criticada por recolher objetos pessoais dos moradores de rua, ação revelada pela reportagem. Para o padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo da Rua, um dos principais críticos da política da Prefeitura para moradores de rua, a ação da gestão Fernando Haddad (PT) em deixar os cobertores no chão “é colocar como réu quem é a vítima”. “O meu cobertor eu deixo na minha cama. A cama deles é a calçada. Eles não têm como carregar os cobertores consigo durante todo o dia”, afirmou.

A Prefeitura argumenta que está providenciando a coleta do material. A retirada de colchões e papelões das pessoas em situação de rua pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) foi duramente criticada e resultou na edição de um decreto impedindo agentes públicos de tomar bens dessa população. “Em função da grande quantidade de cobertores distribuídos de forma voluntária e extemporânea nos últimos dias, o material foi tratado como descartável pelos eventuais usuários”, informou a Prefeitura, em nota, ao comentar o material acumulado.

O abandono do material no centro foi justificado com a afirmação de que “as equipes da Guarda e da zeladoria, depois de serem acusadas de ter concorrido para os óbitos da semana passada, estão receosas de novas acusações infundadas”. Ainda segundo a nota oficial, a Prefeitura tomou providências “no sentido de tranquilizar servidores, temerosos com o uso político que tem se adotado sobre as ações regulares de zeladoria”, encerra o texto.

Um servidor público de 30 anos, que organiza doações com amigos e pediu para não ter o nome divulgado, afirmou que a imagem dos cobertores largados deve motivar as pessoas a diversificar o material a ser doado.

Frio. O inverno começou ontem, às 19h34. Para hoje, há previsão de chuva fraca a moderada, segundo a meteorologista Aline Tochio, da Climatempo. O céu estará nublado e as temperaturas devem variar entre 11°C e 15°C. “Entre quarta e quinta-feira, a chuva pode ser de moderada a forte. O tempo abre na sexta e teremos um fim de semana com sol”, diz.

Preparada, a assistente administrativa Marisete Alexandra da Silva, de 48 anos, saiu de casa com cachecol e luvas na bolsa. “A gente sabe que vai se molhar. Já tem de deixar calça e sapato no trabalho”, afirma.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.