À frente do superministério que reúne as pastas da Justiça e da Segurança Pública, o ex-juiz Sergio Moro não está se saindo bem diante do primeiro grande desafio que lhe aparece nesse início de gestão. Moro não criou o problema, longe disso, simplesmente o herdou. Mas a ele compete enfrentá-lo com autoridade, criatividade e determinação. Não é isso o que se vê.

O que está em questão é a barbárie e a selvageria de delinquentes que incendeiam o Ceará, chegando à audácia da prática do terrorismo urbano: explosão de estruturas de pontes e viadutos, destruição de ônibus, ataques a centrais distribuidoras de energia elétrica. Isso é guerrilha. A resposta do Ministério da Segurança Pública, no entanto, insistiu na velha tecla: enviar ao estado tropas da Força Nacional. Os atentados recrudesceram e isso a desmoralizou. Aliás, o que podem fazer soldados recém-desembarcados em um teatro de operações de guerra diante do inimigo que há tempo já domina o território? Obviamente, nada.

A favor de Moro conta o pouco tempo de sua gestão e a inexperiência no assunto. Ele, naturalmente, ainda não teve como organizar um serviço de inteligência que funcione na inibição de crimes e de criminosos que agem com revólver, fuzil, gasolina e bomba – bem diferente, claro, do modus operandi dos corruptos marginais de colarinho branco. Moro julgava white collar; agora terá de enfrentar psicopatas incendiários que alucinam diante de labaredas. Por mais importante que seja a montagem de uma engrenagem de serviço de inteligência, ela de nada adiantará, no entanto, se o Ministério da Segurança Pública também não tiver definida uma política repressiva e eficaz que recomponha imediatamente a ordem, sempre que ela for rompida.

Infelizmente, dessa vez, o crime organizado segue vencendo, e, atônitos, assistimos a esse deplorável espetáculo no qual a população fica entregue a bandidos. Ressalte-se o equívoco da proposta do governo estadual de premiar com R$ 30 mil (dinheiro público, sem consulta prévia ao contribuinte) a quem dê informações sobre atentados e seus autores. Cidadão do bem que fizer isso acabará sendo descoberto pelos delinquentes e pagará com a vida, uma vez que não há proteção policial suficiente (o que faz vigorar a omertà). Mais: qual trabalhador honesto saberá para aonde está programado o próximo ataque? Corre-se o risco, assim, de os bandidos mandarem “laranjas” dar informações. Ou seja: eles próprios, criminosos, acabarão com o dinheiro do prêmio em suas mãos.

O ex-juiz julgava corruptos. Agora terá de enfrentar psicopatas que alucinam diante de labaredas