Do RJ para o mundo: a anatomia do marketing e da estratégia global de Anitta

O case de marca que levou a artista de Honório Gurgel ao topo da indústria mundial

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Anitta Foto: Reprodução/Instagram

Anitta é hoje um dos maiores nomes da música pop internacional, mas sua história começou longe dos grandes centros da indústria fonográfica. Nascida e criada em Honório Gurgel, na zona norte do Rio de Janeiro, a cantora transformou suas raízes na força motora de uma carreira que rompeu fronteiras. Desde que ganhou projeção nacional com “Show das Poderosas”, em 2013, ela construiu um plano de expansão raro entre artistas brasileiros: conquistar o próprio país como laboratório e, depois, escalar para o mercado global com estratégia.

A artista acumula feitos históricos ao longo da última década. Além de parcerias com Madonna, Cardi B, J Balvin e Maluma, ela se tornou presença constante em premiações de prestígio — do Grammy Latino ao VMA — e marcou lugar nos eventos mais disputados da moda, como o Met Gala. Em 2022, alcançou o topo do Spotify Global com “Envolver”, tornando-se a primeira brasileira a ocupar o 1º lugar mundial na plataforma.

Nada disso aconteceu por acaso. Por trás do fenômeno, existe uma operação de marketing e gestão de marca que chamou atenção do mercado internacional. Em entrevista à IstoÉ Gente, o especialista em marketing de influência Flávio Santos, CEO da MField, resume o diferencial: “O maior acerto foi tratar a carreira dela como um produto de exportação planejado.” Segundo ele, antes de mirar no exterior, a artista consolidou uma narrativa forte, testou formatos, validou linguagem e entendeu que reputação, dados e comunidade seriam pilares para uma marca global.

A identidade brasileira não foi apenas mantida — virou estratégia. “A favela, o funk e a cultura popular foram reinterpretados como estética global”, afirma Santos. Ao transformar o Rio de Janeiro em ativo de marca, Anitta criou uma proposta que foge da padronização da indústria pop e aposta no que a diferencia. Essa lógica também se reflete na gestão da imagem: “Ela é uma artista com brandbook e plano de negócio próprios”, destaca o especialista. Cada lançamento funciona como uma campanha completa, com figurino, clipe, distribuição e PR pensados de forma integrada.

Multilíngue, Anitta transita por diferentes públicos, mas Santos aponta um outro fator como mais determinante: “Anitta entende códigos locais, memes e timing.” A leitura de contexto possibilita que ela converse com latino-americanos, norte-americanos e europeus com fluência cultural, e não apenas linguística. Nas redes, essa capacidade foi decisiva. “O algoritmo é o novo palco”, afirma. Muito antes de o digital se tornar obrigação na música, Anitta o transformou no centro de sua estratégia.

As parcerias internacionais funcionaram como movimentos de marca. “Cada feat ampliou o awareness da marca Anitta”, explica o CEO da MField. O impacto, segundo ele, é semelhante ao de alianças corporativas — consolidando presença em novos territórios e públicos. Adaptar-se ao cenário global exige cuidado para não perder a identidade. Para Santos, o acerto de Anitta foi ajustar a linguagem sem apagar as raízes: “Ela adaptou o som, mas manteve o DNA brasileiro visível.”

Met Gala, VMA, Billboard Awards — cada aparição vai além do glamour. “Cada presença é tratada como uma campanha em si”, detalha Santos. A estratégia reforça posicionamento, reputação e relevância contínua. A próxima fase aponta para expansão também nos negócios. “A tendência é consolidar sua influência como empreendedora, com spin-offs, licenciamento e novas frentes de atuação”, projeta o especialista.

O case de Anitta prova que a cultura brasileira tem espaço — e potência — na cena global quando acompanhada de estratégia, gestão e visão de longo prazo. Da zona norte do Rio para o mundo, sua trajetória ainda está longe do ponto final.