Ao longo de sua trajetória, levantou pautas importantes sobre representatividade negra, autoestima feminina e direitos LGBTQIA+ — causas que abordava com naturalidade, autenticidade e sem concessões.
IstoÉ Gente relembra algumas declarações de Preta sobre suas lutas e as de outras mulheres. Confira!
Enfrentando o racismo de frente
Em 2016, Preta Gil foi alvo de ataques racistas brutais nas redes sociais. Chamadas ofensivas como “macaca” e comentários dizendo que ela deveria “voltar para a senzala” escancararam o racismo estrutural ainda presente na sociedade brasileira. Em vez de se calar, a artista denunciou publicamente os agressores, registrou queixa formal e incentivou outras vítimas a também denunciarem, em um momento em que o enfrentamento ao racismo ainda era menos frequente nas redes.
“Precisamos denunciar para que a sociedade evolua. Racismo é crime. Se não for por consciência, que seja por meio da lei e da Justiça”, afirmou Preta à imprensa naquela época.
A cantora também se pronunciou diretamente em sua página no Facebook, onde os ataques ocorreram. “Fui alvo de mensagens de ódio, críticas ao meu corpo, minha cor, meu trabalho. Mas esse tipo de violência só reforça minha força. Eu sei o meu valor”, escreveu.
Preta nunca escondeu os próprios aprendizados. Em uma palestra em Salvador, usou expressões de cunho racista sem perceber o impacto, o que a levou a refletir e estudar com mais profundidade as questões raciais no Brasil.
“Fui compreender o colorismo, a miscigenação como projeto de embranquecimento, e então passei a me entender como mulher mestiça, preta, sim, e renasci mais preta do que nunca”, declarou ao Conexão VivaBem, do UOL, em 2020.
Quebrando padrões e incluindo corpos
Desde cedo, Preta entendeu que ocupar espaços era um ato político. Quando assinou uma coleção de moda praia com a C&A, fez questão de incluir tamanhos maiores e criar peças pensadas para corpos diversos.
“Não penso só em mim. Quero que outras mulheres, maiores ou menores, se sintam representadas. É sobre inclusão”, contou à Vogue Brasil em 2021.
Ela celebrava quando mulheres relatavam que, por sua influência, voltaram a usar biquínis ou se sentiram mais confiantes na praia. “Isso vale cada crítica que recebo por causa do meu corpo, da minha cor ou por ser mulher.”
Consciência e liberdade
Durante uma live no Dia da Consciência Negra, em 2020, Preta fez um apelo direto à responsabilidade da branquitude no combate ao racismo. “O racismo não foi criado por nós, negros. Foram os brancos. Eles devem assumir o protagonismo na luta contra isso”, afirmou. “Ser antirracista é um compromisso diário.”
Sua militância sempre teve caráter interseccional. “Eu não sou só preta. Sou gorda, mulher, bissexual, livre. E tenho muito orgulho de ser tudo o que sou”, disse, reafirmando seu posicionamento e identidade.
Voz contra o machismo
Ao falar sobre o fim de seu casamento com Rodrigo Godoy, em 2023 — durante seu tratamento contra o câncer — Preta denunciou o machismo que pressiona mulheres a dependerem de homens mesmo em situações de vulnerabilidade.
“Mesmo doente, escolhi me separar porque a relação não me fazia bem. É machista achar que só um marido pode cuidar de uma mulher. E os pais, os amigos, a família? Por que o homem é sempre o centro?”, questionou, em entrevista à Marie Claire.
Ela concluiu que a decisão foi parte de seu processo de autoconhecimento. “Estou tendo uma nova chance de viver, e isso precisa ter um sentido. Se não for para mergulhar fundo agora, quando será?”, refletiu.