Eu me interesso muito por temas complexos, como astrofísica, psicologia e existencialismo. Acho que são duas as razões: muito tempo ocioso e uma profunda busca por angústia. Sim, me debruçar sobre questões praticamente incompreensíveis e em grande parte inexplicáveis, mas perfeitamente imagináveis, me traz uma baita angústia. É quase uma espécie de gozo interrompido. Você conhece uma parte, mas jamais o todo.

Há pouco mais de um ano perdi o maior amor da minha vida. Minha mãe representa, ao lado da minha filha, a mais brutal sensação emotiva que já experimentei. Claro que amo, de paixão – sim, ainda!! – minha esposa. E meus irmãos, sobrinhos, amigos próximos e de longa data. E amo estupidamente um clube de futebol, o Atlético Mineiro. Mas ela e minha filhota são as únicas capazes de me parecerem insubstituíveis. Ok, o Galo também.

Compreendo perfeitamente o funcionamento e a existência do corpo físico. Percebo sua limitação e, cada vez mais, seu envelhecimento. As células já não se regeneram como há dez, quinze anos. A força é escassa, a forma é feia, a finitude se faz presente e uma baita mistura de sentimentos – resignação, tristeza, conformismo, dentre tantos – toma conta da consciência. Não é à toa meu gosto pelo silêncio, isolamento e certa solidão de vez em quando.

Por outro lado, ao contrário do descrito acima, compreendo cada vez menos tudo aquilo que é abstrato na minha existência. A consciência, afinal, é o quê? Vem de onde, vai para onde, mora aonde? O frio e o calor são sensações térmicas. A fome é uma resposta fisiológica. O medo é o sinal de alerta do instinto de sobrevivência. Mas o que diabos é a percepção de ser e existir? Vou além: sentir!? Especificamente, dentro deste contexto, amar?

Enquanto me dissolvo em lágrimas, não necessariamente tristes – raramente são -, lamento, como Renato Russo, não ter mais o tempo que passou. É ruim saber que esse tempo, hoje, é maior do que o que virá. E que não terá, nem de perto, a qualidade do passado. O conforto, contudo, reside no amor. Na fé na continuidade refletida no corpo jovem da minha filha, que me permite imaginar o que ainda terei dela, como teve a minha mãe com seus filhos e netos.

Encerro desejando, ou melhor, aconselhando, pedindo, implorando – e novamente lembrando RR -, que amem seus queridos como se não houvesse amanhã. Porque, realmente, se você parar pra pensar, na verdade, não há. E é aqui que entra a astrofísica. E onde misturo o espaço-tempo com o amor. Este sentimento invisível, não palpável e como a água, insípido, inodoro e incolor, mas tão presente e real quanto este teclado e estas palavras.

Talvez Deus seja, ao contrário do que pregam as religiões, apenas e tão somente a nossa capacidade de amar. Algo que nos torna únicos e eternos. Que nos faz, mesmo diante da certeza do fim, viver como se não fosse real tamanha ameaça. Portanto, mãos à obra! Amem muito e mantenham, assim, transponível o caminho entre esse mundo e o dos que daqui já se foram. Boas festas a todos!, e um 2022 especialmente iluminado, abençoado e feliz.