E agora, presidente, como ficamos? A economia vai dando sinais claros de que volta a parar. Oito vezes, pelo menos, os números do PIB foram revistos para baixo em 2019. Um recorde sem precedentes na história estatística recente. Os índices de desemprego estão de novo em alta após dois anos de alguma estabilidade promovida pela gestão anterior. A maioria contabiliza o ano como perdido e empurra as expectativas de crescimento para 2020. A essa altura do campeonato, decorridos mais de 100 dias desde a posse do mito Bolsonaro, seria por demais otimista dizer que o desempenho de seu governo naquilo que realmente interessa entraria pelo menos na classificação de sofrível. Está abaixo disso. Desastrosa são as práticas políticas que, em boa parte, desencadearam o cenário. Para além do “golden shower” e das demais prioridades de costumes e esquisitices que tomaram o tempo do mandatário, seus filhos, o guru da Virgínia e diversos ministros destrambelhados contribuíram, e muito, para a bagunça administrativa instaurada e que praticamente imobilizou o Executivo. Travados pela inépcia do Estado nas tarefas mais elementares e assustado com as perspectivas, consumidores, empresários, brasileiros em geral, engavetaram planos e perderam o otimismo inicial. A confiança numa agenda de retomada, com mudanças estruturantes, foi para o espaço. A popularidade de Bolsonaro, logo na largada, caiu ao pior nível de um presidente eleito pelo voto desde a redemocratização. E segue em desabalada queda. Os números da pesquisa Ibope da semana passada comprovam. O País agora teme bater de novo à porta da recessão. Seria o pior dos mundos e não está longe. A probabilidade de PIB negativo no trimestre entre janeiro e março é enorme. Ao menos três grandes instituições financeiras, os bancos Bradesco, Itaú e Fator, atestam essa perspectiva em suas análises de cenário, o que desloca e já compromete eventuais resultados positivos dos meses subsequentes. A verdade nua e crua é que entramos mais uma vez numa espiral de estagnação, com ameaça concreta de “crescimento negativo” – na terminologia técnica, significando na prática andar para trás – e ainda não há qualquer consenso sobre a estratégia para se sair dela e voltar a acelerar. A desarticulação do Planalto no projeto da Reforma da Previdência (que foi colocada como pedra fundamental para o despontar de uma nova era) assombra inclusive a base aliada. Não é à toa que analistas são unânimes em dizer que a persistência das incertezas políticas, sem qualquer inversão de mão do Executivo, pode levar rapidamente a uma inviabilidade do governo, com pressões de todos os lados, inclusive de militares. Os agentes de mercado tomaram um duro golpe ao assistirem, desolados, à interferência do presidente, de maneira populista e equivocada, no preço do diesel. Foi como uma facada na credibilidade que ainda restava junto à opinião pública. A criação de um ambiente favorável aos investimentos e às apostas das empresas tem como pressuposto fundamental a chamada previsibilidade de regras. Algo que Bolsonaro desconsiderou ao partir para atitudes atabalhoadas como essa. Com o festival de revezes econômicos contabilizados em tão pouco tempo de nova gerência, a dúvida que resta daqui para frente é se a experiência negativa motivará uma mudança de postura do chefe da Nação. Ele sairá da inércia para um trabalho mais firme e ativo de recondução do País aos trilhos? Irá mobilizar as forças políticas para um rápido desenlace do projeto da Previdência? Buscará uma nova relação de entendimento com o Legislativo após a criação de um clima de animosidade a troco de nada? E o que esperar da influência sempre caótica do clã bolsonarista, onde cada filho abre a boca quase diariamente para criar seguidas crises? Presidente é bom que o senhor enxergue os fatos como eles são. A fórmula em uso por esses dias está se esgotando rapidamente. E as razões do fiasco vão bem além da conjuntura. Tiroteios verbais, despachos por redes sociais, falta de comunicação direta com políticos, Judiciário e formadores de opinião escancararam uma gestão desastrosa. O Congresso retalia com pautas bombas, encurtando as ações do governo: orçamento impositivo, limitação de medidas provisórias e retardamento na análise de projetos do Executivo são apenas algumas das munições já usadas. A estratégia kamikaze de Bolsonaro contabiliza até aqui o apoio apenas dos seguidores de sempre, numa adoração fanática, e abre margem a uma frustração generalizada. Para além do mimimi de perseguição, que ele costuma entoar, a crise é real. Os números não mentem. Nem atenuam. O presidente deve evitar a receita fácil de sobrepor populismo a liberalismo. Do contrário será engolfado pelos eventos.

 


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias