Ultimamente, pulularam, nos meios de comunicação, “especialistas” de coisa nenhuma comentando sobre tudo o que desse na cachola: de Ação Direta de Inconstitucionalidade ao conflito na Ucrânia. Desculpem-me os “entendidos”, mas o mundo é bem mais complexo do que supõe vossa vã sabedoria. Leitor, amigo, há um tipo de incauto, em particular, que, da noite para o dia, passou a arrotar ciência política, definindo, sabe-se Deus com base em quê, a divisão do mundo entre direita e esquerda. São rápidos no gatilho ou no teclado para acusar outrem de “esquerdista” ou “direitista”; “comunista” ou “reacionário” e por aí vão as alcunhas. Informo que, sabichão(ona), o mundo não se encaixa mais nessa dicotomia banal de certo e errado, bem e mal, direita e esquerda. Aliás, o conceito de direita e esquerda remonta aos idos da Revolução Francesa, quando Girondinos (mais moderados) e Jacobinos (mais radicais), sentavam-se, respectivamente, à direita e à esquerda no Parlamento francês.

De lá para cá muitas águas se passaram, muitas cabeças rolaram, e as definições desses dois espectros políticos ficaram cada vez mais complexamente desuniformes. Vejamos o nazismo alemão. Concebido pela maioria dos historiadores como um movimento de direita, ele tinha muitíssimo em comum com seu rival de esquerda, o comunismo soviético. Ambos foram regimes disruptivos, antidemocráticos, antiliberais, violentos e impositivos. Um na figura de Hitler outro na figura de Stalin, ambos eram igualmente personalíssimos, idolatrando seus mitos políticos.

Se a direita alemã praticava capitalismo de Estado no século XX, a moderna China comunista dos nossos dias aposta… no capitalismo estatal! Direita-e-esquerda não explica tudo, caro leitor. Da Revolução Francesa para cá surgiram novos valores, doutrinas, conceitos que não cabem mais em caixas tão pequenas e simplistas.

Informo que o mundo não se encaixa mais nessa dicotomia banal de certo e errado, bem e mal, direita e esquerda

É que as ideias não aceitam muros. Mais cedo ou mais tarde, elas se rebelam, se expandem, se metamorfoseiam, se interceptam e se desencontram. Contra esse movimento, o do pensamento livre, não há amarras nem ditaduras que o detenha. Por isso, no mundo de hoje, quem diria, há direitistas a favor do aborto e da legalização das drogas, assim como há esquerdistas defendendo o controle da mídia e a economia liberal. E no Brasil, um País que costuma ressuscitar ideologias caducas, há muito tempo mortase sepultadas no mundo civilizado, a coisa é ainda mais bagunçada.

Quem diria que bolsonaristas e radicais do PCO estariam do mesmo lado da cerca, defendendo  o camarada Putin?