Charles do Bronx passa por um momento especial. Além das 11 vitórias seguidas no UFC, seguir quebrando recordes e superando suas marcas individuais, o lutador passou por uma tarde especial nesta quarta-feira no Brasil. Em São Bernardo do Campo, cidade da Grande São Paulo, ele teve um encontro com seus fãs, após viver um dos meses mais agitados e controversos de sua carreira.

A ação aconteceu na loja da New Era, marca de vestuário americana, que o representa. Esses encontros com os torcedores são cada vez mais frequentes no esporte, em todas as modalidades. Para falar com o campeão do peso-leve do UFC, os fãs tiveram de levar 1kg de alimento não perecível, cuja arrecadação será doada para instituições de caridade. Antes do evento, Do Bronx conversou com o Estadão sobre sua carreira, vida pessoal e as controvérsias da luta que deveria ter no último mês, quando perdeu seu cinturão no MMA.

Número 1 no ranking dos pesos-leves, o lutador perdeu seu cinturão na pesagem, antes mesmo de defendê-lo na luta com Justin Gaethje, dos Estados Unidos. Na ocasião, o brasileiro criticou a organização do UFC 274. Passado mais de um mês, ele ainda não esconde a insatisfação pelo ocorrido e diz ter sido injustiçado.

“Fui roubado. Ficou claro que eles queriam mexer no resultado, mas ninguém pode tomar meu cinturão assim, entregar para fulano, para ciclano. Eles têm de me vencer e até agora isso não aconteceu”, desabafou o lutador.

Para reconquistar o cinturão, Do Bronx deve voltar ao octógono entre outubro e novembro, ainda sem adversário definido. Antes de retomar os treinos, o lutador diz que pretende passar um tempo com a família e aproveitar o Brasil. “Eu preciso disso também. Eu trabalhei muito nos últimos meses, focado na luta (contra o Justin Gaethje), então quero tirar um tempo para mim, antes de voltar ao ‘camping’, me dedicando 100%”.

Mas Do Bronx também não esconde a vontade de enfrentar Conor McGregor. Após a vitória diante de Gaethje, o brasileiro publicou em suas redes sociais que gostaria de encarar Nate Díaz e Conor na mesma noite. Um mês depois dessa declaração, ele garante que não falou aquilo “da boca para fora”. “Além do desafio, todo mundo sabe o dinheiro e a visibilidade que essa luta me traria, então essa é uma das ideias”. Acompanhe a entrevista com o lutador.

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Como você se sente ao receber o carinho dos fãs, após passar um tempo fora do Brasil, e ao mesmo tempo estar contribuindo, por meio da sua imagem, com instituições de caridade?

Isso é o mais importante para mim. Às vezes você fala que isso é mínimo. Mas o mínimo que a gente faz para quem precisa, pode ser o máximo para eles. Sempre que eu puder ajudar com isso, puder colocar o meu nome nessas ações, vou fazer. É gratificante. Sentir que faço a diferença de alguma forma e poder estar ajudando o próximo é essencial para mim.

Agora que está de volta, você consegue ter a dimensão do quão grande e importante é a sua imagem para os brasileiros e de quantos fãs conquistou pelo UFC?

Eu não gosto de pensar muito nisso, porque essa noção de grandeza pode entrar na minha mente e acabar me atrapalhando, mas acho que os resultados vêm falando por si. A cada nova luta, a cada novo capítulo, a gente vai construindo nossa própria história. Um legado de alguém que subiu na vida sem precisar pisar em ninguém e sendo humilde, que são as coisas mais importantes. Os mais velhos até me comparam com o Ayrton Senna, então acho tudo isso gratificante.

Sobre isso, de você ser um ‘Ayrton Senna’ para o UFC, atrair multidões e novos públicos para o esporte. Como você lida com esse peso e esse momento na sua vida e carreira?

Passar por tudo que passei, durante a minha vida inteira, poder ser reconhecido nas ruas, ser famoso e ver que as pessoas se espelham na minha história, na minha vida, me deixa extremamente feliz. Eu estou muito feliz, essa é a real, por tudo que vem acontecendo, por esse ‘hype’ gigante que a vida vem me proporcionando e espero continuar nessa caminhada e, principalmente, inspirando novas pessoas.

Apesar de afirmar que está vivendo um momento ímpar na carreira, é impossível não se lembrar das polêmicas na pesagem do UFC 274. O que passou pela sua cabeça, no momento que perdeu o cinturão na balança?

Fui roubado. Não tem outra coisa para dizer. Ficou bem claro que eles roubaram o meu cinturão. Ninguém pode tomar o meu cinturão assim, sem luta, sem combate. Mas quando eles tentam me vencer, não conseguem. Eu já disse, mais de uma vez, que sou iluminado e estou um passo à frente desses caras. Com essa polêmica, eles (da Comissão Atlética de Arizona) tentaram de alguma forma mexer com a minha mente. Lógico que nos primeiros 30, 40 minutos, foi complicado. Eu precisei parar, respirar e me recolocar em ordem, entender tudo o que vinha acontecendo e Deus foi muito bom para mim, para eu conseguir manter a calma. E deu tudo certo.

Nas últimas semanas, diversos lutadores saíram em sua defesa. Um deles foi o Glover Teixeira. Como você recebeu esse apoio e da comunidade do UFC? Se sentiu respaldado?

Com certeza. Eu acho que o mundo inteiro sabe, o UFC sabe, a Comissão Atlética sabe e os atletas sabem que o campeão dos pesos-leves não mudou: ele se chama Charles Oliveira, Charles do Bronx. Eles (Comissão Atlética) sabem que houve injustiça comigo e só se afundam mais, a cada nova fala. Quando qualquer outra pessoa abre a boca para falar de mim, ou eles falam bem ou também se afundam. Mas o que eu penso agora, além das polêmicas, é que isso já passou, ficou para trás. Foi assim durante minha vida inteira.

Você é um lutador que gosta de recordes. Além de ser o maior finalizador da história do UFC, logo após sua vitória sobre o Justin Gaethje, afirmou que gostaria de enfrentar Nate Díaz e Conor McGregor na mesma noite. Ainda mantém essa ideia ou foi coisa do momento?


Cada atleta faz de uma forma, luta de uma forma. Eu comecei a minha carreira fazendo três lutas por noite e vocês podem ter certeza de que o que falei (sobre enfrentar Díaz e McGregor), não falei para brincar. Se ele (Dana White) quiser colocar os dois no mesmo dia, eu luto com os dois no mesmo dia? Eles são dois grandes nomes, com uma carreira enorme e merecem todo o respeito do mundo, mas acho que estou um ou dois passos à frente desses caras. O Nate e o Conor são gigantes, então quem sabe duas lutas na mesma noite? Seria sensacional, mas teria de ver se eles aguentariam. Eu sei que consigo, já fiz três lutas no mesmo dia, porque não duas?

Diversos lutadores brasileiros, como Durinho e o Glover, te colocam como o principal nome do UFC. Você teve seu cinturão “arrancado”, mas vence e se coloca como o próximo desafiante, que deve ser em outubro. O quão longe você pode chegar?

Cara, é só o começo, essa é a realidade. Eu já falei que estou vivendo o momento perfeito da minha vida, mentalmente, fisicamente, espiritualmente e sigo como o verdadeiro campeão do pesos-leves. Se um dia for nocauteado, finalizado ou perder pontos, aí sim. Mas até lá, mesmo sendo roubado, sigo como campeão. E só tenho a agradecer aos lutadores, ao Glover, por me considerarem como um dos grandes, o maior nome do UFC no Brasil. É bom escutar esses elogios, mas não deixo isso entrar na minha mente. Os resultados, como já disse, falam por si só: quem mais venceu por via rápida, quem mais demorou para ser campeão… A gente tem de montar um livro sobre todas essas histórias. E com 32 anos, estamos só no começo, tem mais 10 a 15 anos pela frente.

E sobre a luta, que deve ser marcada em outubro ou novembro, o rival mais cotado para disputar o cinturão com você é Islam Makhachev. O que pensa dele?

Qualquer lutador que me enfrente, vou encarar da mesma forma. Todo mundo sabe que gostaria de enfrentar o Conor, pelo dinheiro e importância da luta. Mas o Islam surge junto com Khabib, então se o UFC quiser fazer acontecer essa luta, ele só precisa falar com o meu empresário e a gente marca. Eu tenho todo o respeito por ele, mas não tenho medo algum, nem de nenhum lutador. Não faz diferença alguma.

Enquanto estiver no Brasil e de “férias”, o que você pretende fazer, além de participar de outros eventos?

Eu quero tirar um tempo para ficar com a minha família nos próximos meses. Preciso disso, ficar um pouco com a minha família. Eu trabalho bastante, mas também preciso parar e dedicar um tempo para eles, porque daqui a pouco, em outubro ou novembro, a gente vai marcar a luta. Com ela arranjada, tenho de estar fechado no camping, treinando, e acabo deixando a família de lado. Então, tenho em mente a necessidade de descansar nos próximos meses.


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