DNIPRO, 20 ABR (ANSA) – Por Lorenzo Attianese – Do outro lado do rio, nos escritórios de um velho palácio da época da União Soviética, algumas mulheres se deslocam freneticamente entre os quartos. Atrás de uma dessas portas, que abre e fecha centenas de vezes por dia e está sempre vigiada, há uma central que controla os suprimentos, números de contatos e ajuda humanitária que chega de todo o mundo.
E assim, em inventários improvisados, entre as fraldas e as latas de molho de tomate, há também insígnias e tecidos de vários tipos. Há milhares deles amarrados com molas em estantes, mas cada vez mais, são procurados coletes à prova de balas, capacetes militares, ‘ração K’ – a comida para combatentes militares – e kits médicos para soldados feridos.
Assim é o último posto avançado que garante apoio e suprimentos para a defesa do Leste da Ucrânia: a cidade de Dnipro. De um lado, a localidade estende a mão para os deslocados da guerra; do outro, é o braço armado da resistência ucraniana contra os russos.
Desde os primeiros dias do conflito, chegam à cidade até 500 civis por dia, que pedem fuzis Kalashnikov (AK-47) para ir ao fronte de batalha.
“Nós os mandamos para o comissariado militar porque sim, esse é o centro de coordenação dos voluntários, mas o alistamento é preciso fazer por lá. Nós recolhemos as coisas que depois serão necessárias para eles levarem ao fronte”, disse uma das responsáveis do local, Katerina Leonova, à ANSA.
Desde que começaram os ataques mais pesados nos territórios no sul, explica a representante, os furgões voltam cada vez mais cheios de pessoas que fugiam dos conflitos.
Dnipro, onde se concentra a maior comunidade judaica da Ucrânia, mas que também tinha a maior taxa de criminalidade do país antes da guerra, sempre agiu no enfrentamento dos ataques das milícias russas ou pró-Rússia. Até agora, eles realizaram ações militares pontuais, mas não conseguiram dominar nenhuma área local.
Há cinco dias, atingiram o território uma dezena de mísseis que destruíram o aeroporto e, algumas semanas antes, na vizinha Pavlohrad, foi atingida a estação ferroviária. A cidade cinza cortada ao meio pelo rio, com seus velhos palácios mal cuidados, porém, parece até indiferente ao conflito, apesar dos sacos de areia e os obstáculos cavalos de frisa por toda a parte.
“A única coisa que precisamos ficar muito atentos é com o bombardeio de pontes para que o sul ou o norte não fiquem isolados porque ainda podemos ser decisivos”, disse um dos combatentes ao enviado da ANSA.
Uma das grandes diferenças de Dnipro é a resistência das mulheres, que mantêm o apoio constante aos homens do fronte.
“Não é uma novidade. Desde 2014, as mulheres começaram a se alistar e representam cerca de 10% da defesa territorial. Muitas outras vão ao fronte como enfermeiras ou médicas, fazem redes de camuflagem, cozinham grandes quantidades de comida, gerem a distribuição de medicamentos e se ocupam dos registros. E há uma diferença com as militares do exército, que tem os mesmos papéis dos homens: são franco-atiradoras, lutam atrás de morteiros ou na infantaria”, explica Leonova.
A alguns quilômetros do centro de distribuição, a advogada Tatiana Yanushkevich mostra orgulhosa o quarto recém-reformado para receber as crianças que se tornaram deslocadas no conflito.
“Até agora registramos 100 mil pessoas que chegam de toda a região de Donetsk aqui em Dnipro. No antigo dormitório dos operários russos que construíram a estação de metrô da cidade, agora estão 323 refugiados, entre os quais, 70 crianças. Eles usam os cinco andares da construção, que tem corredores escuros e sufocantes”, destaca a advogada.
Segundo Yanushkevic, “as piores notícias vêm de Mariupol de onde chegam sempre novos hóspedes”.
“Dizem que a única maneira de fugir é ir para a Crimeia ou à Rússia, onde alguns contaram que precisaram ficar nus em frente aos soldados russos. Naquela cidade, falta comida e muitos são obrigados a beber água descongelando a neve. Os primeiros a morrer são os mais pequenos, por conta da fome”, relata ainda, ressaltando que agora Dnipro é vista como um “berço” que acolhe “as crianças como uma mãe e, ao mesmo tempo, enfrenta o invasor como uma guerreira”. (ANSA).