Esqueletos antigos encontrados em Israel e analisados na Alemanha podem ser a chave para resolver o enigma do povo filisteu e estabelecer suas origens europeias pela primeira vez atravƩs da anƔlise de seu DNA, de acordo com cientistas.
Esta descoberta sobre as origens deste povo estabelecido na Antiguidade no sudoeste de CanaĆ£, em uma faixa de terra que atualmente fica entre Tel Aviv e Gaza, foi publicado nesta quarta-feira (3) na revista Science Advances, e qualificada como “extraordinĆ”ria” por um dos arqueĆ³logos a cargo do projeto.
AtĆ© agora, os cientistas nĆ£o tinham nenhuma informaĆ§Ć£o que permitisse traƧar a origem dos filisteus. SĆ³ sabiam que chegaram a esta regiĆ£o semita por volta do sĆ©culo XII a. C.
Os escritos bĆblicos e egĆpcios os incluĆam nos chamados “povos do mar”. Suas cerĆ¢micas vermelhas e negras, assim como sua arquitetura, poderiam relacionĆ”-los com as civilizaƧƵes presentes no Mar Egeu.
“A ideia segundo a qual os filisteus eram migrantes nunca antes pĆ“de ser demonstrada”, explica Daniel Master, que dirigiu a equipe arqueolĆ³gica que fez escavaƧƵes em Ashkelon, uma das cinco cidades filisteias localizadas atualmente no sudoeste de Israel.
As ossadas encontradas em Ashkelon, da Idade do Bronze e do Ferro, foram analisadas graƧas a avanƧadas tecnologias na Alemanha.
Ao comparar o genoma das ossadas dos dois perĆodos, “descobrimos que os filisteus, que estavam presentes na Idade do Ferro, tinham uma parte de seu genoma que nĆ£o existia nos povos que viviam ali antes, na Idade do Bronze”, destaca Michal Felman, uma das pesquisadoras do Instituto Max Planck para as ciĆŖncias da histĆ³ria humana em Jena, Alemanha.
“Esta parte do genoma parece derivar de um genoma europeu”, acrescentou.
“HĆ” 150 anos os arqueĆ³logos de todo o mundo trabalham sobre este tema”, destaca por sua vez Daniel Master, que qualifica a descoberta como “extraordinĆ”ria”.
“Agora, com os resultados do DNA Ć nossa disposiĆ§Ć£o, que mostram um aporte de origem europeia em Ashkelon no sĆ©culo XII (a. C.) podemos dizer (…) que estas pessoas eram migrantes vindos a esta regiĆ£o no sĆ©culo XII”, destacou.
– Primeira migraĆ§Ć£o rastreada –
A equipe de Daniel Master descobriu em 2013 um cemitƩrio filisteu em Ashkelon do qual se pƓde obter uma ampla diversidade de amostras de DNA para ser analisadas pelos arqueogeneticistas.
Os resultados, no entanto, nĆ£o tinham sido publicados atĆ© agora, jĆ” que os mĆ©todos que permitiam este tipo de investigaĆ§Ć£o nĆ£o estavam disponĆveis antes, assegura Michal Feldman.
Os cientistas podem averiguar a origem dos filisteus “na Europa e provavelmente no sul da Europa”, mas “ainda nĆ£o tĆŖm suficientes dados para identificar a populaĆ§Ć£o exata”, destaca.
As razƵes que levaram os filisteus a se instalar no litoral ensolarado do leste do MediterrĆ¢neo por volta do fim da Idade do Bronze continuam sendo, no entanto, um mistĆ©rio.
Mas segundo Daniel Master, durante o sĆ©culo XIII a. C. ocorreram vĆ”rias migraƧƵes rumo ao leste do MediterrĆ¢neo. Ć a primeira vez que os cientistas conseguiram rastrear uma delas, afirma.
Os filisteus, experientes comerciantes e marinheiros, nĆ£o praticavam a circuncisĆ£o e comiam carne de porco e de cachorro, como demonstram os ossos encontrados nas ruĆnas das outras quatro cidades filisteias vizinhas (Gat, Gaza, Asdod e Ecron), que formavam seu Estado.
Esta misteriosa populaĆ§Ć£o desapareceu hĆ” 2.600 anos, quando os babilĆ“nicos conquistaram a regiĆ£o.
Sua histĆ³ria foi sobretudo transmitida por seus vizinhos e inimigos, os israelitas, na BĆblia.
SĆ£o mencionados em tom muito negativo desde o GĆŖnesis, e especialmente no livro de Samuel, onde se descreve quando guerreiros filisteus se apoderaram da Arca da AlianƧa judaica e o famoso duelo entre o guerreiro gigante filisteu Golias contra Davi.