Em seu Facebook, ele até colocou uma foto da praia de Copacabana – a poucos metros de uma multidão que, à frente de um hotel, esperava conseguir ver de perto dos integrantes do Coldplay. Mas o fim de semana do russo Dmitry Masleev no Rio teve pouco sol e nada de água fresca. Do momento em que chegou à cidade até a hora de partir, o pianista fechou-se na Sala Cecília Meireles para estudar, estudar, estudar. E, na noite de domingo, 10, fez sua estreia brasileira com um recital de repertório amplo – e possibilidades técnicas infinitas.

Masleev venceu no ano passado o Concurso Tchaikovski, um dos mais concorridos do mundo. E, aos 27 anos, ganhou, além do primeiro prêmio, uma carreira que já o tem levado mundo afora. O recital no Rio marcou a abertura oficial do Concurso Internacional BNDES de Piano do Rio de Janeiro, que será realizado em novembro – e, símbolo da importância que conquistou, já tem edições confirmadas para 2018 e 2020. Nesta terça, 12, ele faz sua primeira apresentação em São Paulo; será no Theatro São Pedro, em parceria com a Sociedade Chopin do Brasil; e, no sábado, 16, será o solista da Orquestra Sinfônica da USP, na Sala São Paulo.

O repertório desta terça-feira, 11, é o mesmo apresentado no Rio: peças de Bach, Schumann, Liszt, Tchaikovski, Medtner. “Eu quis fazer um programa bem variado, para mostrar as possibilidades que o instrumento oferece em termos de expressão”, diz ele ao Estado, logo após o recital de domingo. “Tenho feito isso nos últimos tempos, mas acho que, em breve, devo começar a pensar em programas dedicados a um só autor, o que é uma proposta diferente.” Com a Sinfônica da USP, ele vai tocar o Concerto nº 1 de Tchaikovski. “É uma peça famosa, muito tocada. Para mim, o importante é tentar tocar de maneira menos agressiva, tentar cantar mais, sempre que possível. Há muita exigência virtuosística, mas isso não pode excluir a poesia.”

Ele não fala em “cantar” por acaso. Grande autor de óperas, Tchaikovski tinha especial predileção pela voz humana. Masleev concorda. O negócio, diz, é estar sempre atento às possibilidades que uma peça oferece, fugindo do óbvio. É por isso, aliás, que diz gostar tanto de Rachmaninov. “Ele foi um grande regente, pianista, compositor. Soube combinar todos os temperamentos e expressões que o ser humano conhece. Mesmo quem não conhece música se sente tocado pelo que ele escreve. Ele soube captar a alma russa.”

Essa é uma discussão eterna na música clássica? Existe uma forma russa de se tocar? Francesa? Alemã? Como foi Masleeev que tocou no assunto, a pergunta é inevitável: e o que é a alma russa? Ele ri. “Olha, eu só tenho 27 anos, não espere grandes reflexões filosóficas da minha parte”, ele começa. Mas arrisca: “Para mim, hoje, o que mais importa é me sentir livre, quando faço alguma coisa. Isso vale para a música. Em algumas obras e compositores, você sente que há um conjunto de regras na forma de tocar. Você aprende as regras e pronto. Mas nos russos, você não enxerga a regra. Você começa a tocar e se dá conta de que importa acima de tudo o coração”.

DMITRY MASLEEV

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Teatro S. Pedro. R. Albuquerque Lins, 207, 3661-6600. Hoje (12), 20h. R$ 15 a R$ 50. Sala São Paulo. Pça. Júlio Prestes, s/nº, 3223-3966. Sáb. (16), 21h. R$ 20 a R$ 70

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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