Marginalizado e impopular após uma passagem pouco frutífera como chefe da Rússia, Dmitri Medvedev jamais saiu da sombra de seu mentor, Vladimir Putin, de quem permanece primeiro-ministro após a sua confirmação pela Duma nesta terça-feira.

Medvedev, de 52 anos, foi gradualmente afastado da linha de frente da política nos últimos seis anos como chefe de Governo. Mas nunca foi preterido por Putin, que novamente lhe ofereceu o cargo de primeiro-ministro, após a sua posse a um quarto mandato na segunda-feira.

Alcançando a presidência da Rússia em 2008, graças ao apoio e popularidade de Vladimir Putin, Dmitri Medvedev cedeu lugar ao final de seu mandato em 2012 para seu mentor e se tornou primeiro-ministro.

Considerado um dos líderes da ala “liberal” da elite política russa, foi marginalizado pela ascensão do clã rival “siloviki” (militares e serviços de segurança) e ocupa um lugar cada vez mais marginal, limitado a questões técnicas.

Em 2017, uma investigação conduzida pelo opositor Alexei Navalny sobre seu suposto patrimônio foi o gatilho para manifestações da oposição, que enxergou nele o possível vetor de uma inflexão do poder.

Sua falta de habilidade como orador também lhe valeu a antipatia dos russos. “Não há dinheiro, mas esperem”, disse ele, por exemplo, em maio de 2016, aos aposentados da Crimeia que se queixavam da queda do padrão de vida, causando uma onda de indignação.

Poucos meses depois, ele convidou os professores que exigiam aumentos salariais de “estudar mais (…) para ganhar mais”.

– ‘Pouco sucesso’ –

Eleito em 2008 presidente da Rússia, este homem sorridente, que não hesita em mostrar seu gosto pelo rock, quis transmitir a imagem de um líder moderno, muito diferente daquela de seu antecessor.

Adepto das novas tecnologias, blogueiro e fã do Twitter, fez da modernização da Rússia seu leitmotiv. Seu credo era então melhorar o ambiente empresarial e reduzir a dependência do país de matérias-primas.

Sua outra ponta de lança: a corrupção, endêmica na Rússia. Dmitri Medvedev, advogado de formação, demitiu vários generais e altos funcionários, incluindo o poderoso prefeito de Moscou, Yuri Luzhkov.

Mas ele mesmo reconheceu em 2011 o “pouco sucesso” obtido nesta área. No fim de seu mandato, a economia russa ainda não havia conseguido se livrar de seus problemas estruturais.

O liberalismo de seu discurso não se traduzia em fatos e, na opinião da esmagadora maioria dos observadores, foi sempre Putin quem decidiu as principais orientações do país durante o mandato de Medvedev.

Em tempos de crise, como durante a guerra de agosto de 2008 contra a Geórgia, Medvedev também reproduziu com sucesso o estilo mordaz de seu mentor. A oposição perdeu o direito de falar sob sua presidência e a televisão continuou sendo essencialmente porta-voz do poder.

O desapontamento foi total para alguns quando ele aceitou em 2012 não brigar por um segundo mandato ao Kremlin e trocar seu posto com Putin, de acordo com um cenário que provou ter sido decidido com bastante antecedência.

– ‘Velho camarada’ –

Nascido em 14 de setembro de 1965 em Leningrado (hoje São Petersburgo) numa família de professores, Dmitri Medvedev cresceu em um bairro popular da antiga capital imperial.

Ele estudou na Faculdade de Direito de sua cidade natal e depois se juntou ao Comitê de Relações Exteriores do município, então liderado por um certo Vladimir Putin. Permaneceu por cinco anos (1990-95).

Sua carreira foi construída na esteira do ex-oficial da KGB, que o levou a Moscou em 1999. Eleito presidente em 2000, Vladimir Putin logo o nomeou chefe da administração presidencial.

Em novembro de 2005, ele subitamente tornou-se vice-primeiro-ministro, uma promoção percebida na Rússia com o objetivo de levá-lo à linha de frente, antes de finalmente chegar ao Kremlin.

Quando presidente, sua popularidade nunca excedeu a de seu primeiro-ministro, que conduziu todas as grandes crises internas e não hesitou em falar sobre política internacional.

Apesar dos rumores – não verificáveis ​​- de tensões dentro do poder, Medvedev sempre enfatizou não estar competindo com Vladimir Putin, seu “colega e velho camarada”.