A chuva cai insistentemente sobre as plantas e as flores do jardim da casa de Djavan, na Barra, numa dessas áreas que parecem oásis perdidos no meio do Rio. Como uma sinfonia, o barulho do impacto das gotas d’água sobre as folhas é entremeado pelo canto de passarinhos ao fundo. Djavan mira orgulhoso para seu pequeno paraíso verde, que separa a casa da família de seu estúdio. Pergunta se a repórter gosta de plantas e fica satisfeito com a resposta afirmativa. Djavan tem uma conexão com a natureza desde pequeno, ele conta. Em seu sítio, na região serrana, o cantor e compositor alagoano, radicado no Rio há décadas, conseguiu criar uma versão amplificada de jardim, que margeia a casa projetada por ele próprio.

Um dia, ele ouviu Lenine, um apaixonado por orquídeas, falando sobre o assunto, e se deu conta que não tinha orquídeas em seu jardim. Chamou um especialista e ergueu ali um orquidário, do qual gosta de cuidar pessoalmente. Lá se vão 15 anos. “Orquídea é algo delicado. Fiz um tabuleiro de orquídea para 450 espécimes, já estou com 850 espécimes de 360 espécies. E você vai se envolvendo e não para, comecei a comprar livros”, afirma Djavan, ao Estado. “Vira um vício, elas têm perfume, de chocolate, de menta, é cada perfume puro, e um show de cores e formas.”

Essa paixão o instigou no campo da música. Em seu novo disco, Vesúvio, o 24.º da carreira, que será lançado nesta sexta, 23, nas plataformas digitais, o samba Orquídea extrapola o status de homenagem. Foi puro desafio para o compositor, ao estruturar uma letra com nomes em latim de orquídeas – e que esses nomes pudessem ser assimilados naturalmente dentro de sua poética. “Lembra aquela Phalaenopsis/Que você me deu/Me deixou com Sophronitis/Por um beijo seu Pleurothallis, Paphiopedilum”, traz a introdução da canção. “Eu sabia que essas palavras tinham música, e eu queria ver se eu conseguia envolvê-las numa música de maneira fluida”, diz.

Em Vesúvio, o álbum, a natureza também é usada por Djavan como metáfora do amor em diversos momentos, como na canção-título que abre o disco, com letra e imagem fortes: “Você tem um poder/Que me lembra o Vesúvio/O sol é de ouro/Que na foz do prazer/Me transforma em dilúvio”. Vesúvio, a música, vem envolta numa atmosfera sonora bem djavaniana. “Ela tem uma parte flamenca, a parte da minha coisa moura, e África, essa música tem uma levada muito tribal. Tudo isso é algo que está dentro de mim”, define ele. “E a metáfora na poesia é uma coisa que tenho há muito tempo, e resultou nessas rimas, nessa história, com essa luz toda.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.