O dízimo faz parte do orçamento de muitas famílias e é mais fácil guardar dinheiro em três cofrinhos do que com apenas um. Essas são duas das conclusões de uma pesquisa iniciada em 2013 sobre o comportamento das famílias de baixa renda pela Associação de Educação Financeira do Brasil (AEF-Brasil), entidade criada e mantida pelo setor financeiro. Os resultados e as tecnologias desenvolvidas serão entregues ao Ministério da Fazenda e ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário que deverão propagar a experiência.

A pesquisa focou dois grupos que somam 43,5 milhões de brasileiros: mulheres e homens aposentados com renda de até dois salários mínimos e mulheres beneficiárias do programa Bolsa Família. Após imergir no cotidiano desses grupos em 49 diferentes municípios em 16 Estados e no Distrito Federal, a pesquisa mapeou perfis em cada grupo e desenvolveu tecnologias para objetivos distintos. Entre os aposentados, a ideia é prevenir e reduzir as situações de superendividamento. Já entre as beneficiárias do Bolsa Família, o objetivo é ajudar na gestão do orçamento.

“Tivemos um trabalho prévio e vivência de meses em várias casas de famílias pesquisadas para entender hábitos de consumo e identificar a linguagem”, explica a superintendente da AEF-Brasil, Claudia Forte. Com essa abordagem diferente, Claudia explica que foi possível perceber nuances nunca antes captadas por trabalhos semelhantes.

Um exemplo é o dízimo e a oferta dada à Igreja. Quando o estudo começou em 2013, nenhum dos pesquisadores sequer imaginou colocar esse item no orçamento das famílias. A pesquisa, porém, revelou que muitos pesquisados têm esse valor como uma das despesas mais importantes. “A religião é a válvula de escape para muitos e o dízimo talvez seja o compromisso financeiro mais importante de algumas famílias”, diz a superintendente da AEF. Foi observado na pesquisa que, entre os fiéis de igrejas protestantes, o dízimo é pago mensalmente. No caso dos católicos, a oferta é paga normalmente toda semana e em montante variável.

Outro exemplo foi a utilização de mais de um cofrinho para incentivar a poupança. No projeto piloto, foram distribuídos três diferentes cofres com tamanho crescente para diferentes metas: 1) ajuda do dia a dia, 2) situações emergenciais e 3) objetivo da família. “Isso mostra que a diferença do dinheiro que você deve guardar para diferentes objetivos”, diz Fabiana de Felicio, diretora da Metas, consultoria que avalia o programa. Com três cofres, a taxa de poupança das famílias cresceu quando comparado ao resultado de apenas um cofrinho. “Quando havia um apenas, era muito mais fácil que usassem o dinheiro para a primeira situação”, explica Fabiana.

Entre os sonhos mais comuns do maior cofre do programa, estão os filhos e a família, como ter um plano de saúde, colocar o filho na escola particular ou uma viagem para visitar parentes.

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A pesquisa tem uma série de outros resultados – muitas vezes simples, mas que fazem diferença para os beneficiários. O material entregue aos aposentados, por exemplo, teve o tamanho das fontes alterado para que a impressão ficasse mais legível. Outro item percebido foi a falta de consciência sobre alguns gastos, como muitas famílias que ignoram o custo de transporte ou de despesas cotidianas, como a padaria.

Os resultados do trabalho foram apresentados nesta segunda-feira em Brasília pela entidade presidida por Murilo Portugal, que também comanda a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). “Aos bancos, não interesse a contratação desmedida de dívidas. O nosso maior ganho está na prosperidade dos clientes e temos interesse em garantir a sustentabilidade dessa prosperidade”, disse Portugal.


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