Não foi por falta de aviso. Em 2016, quando os britânicos decidiram em referendo que o Reino Unido deveria sair da União Europeia (UE), os especialistas alertaram que o divórcio não ocorreria num passe de mágica do bruxo Harry Potter, personagem criado pela inglesa J. K. Rowling. As negociações com as lideranças européias seriam longas e duras — e o convencimento em casa de que se tinha alcançado a melhor solução, também. As comparações entre a realidade política e o universo da fantasia estão em alta na terra da rainha. “O inverno está chegando”, disse Michael Gove, membro do gabinete da premiê Theresa May, ao discutir a possibilidade de o parlamento não aprovar o acordo que ela costurou com tanto custo para assegurar uma saída da UE que fosse menos prejudicial para seu país. A frase é um bordão da série de fantasia “Game of Thrones” que expressa pessimismo. No contexto usado por Gove, equivale a dizer que o pior está por vir.

E está mesmo. Conforme previsto, na terça-feira 15 o parlamento recusou a solução de May para o Brexit com uma margem de 230 votos. No dia seguinte, ela sobreviveu por pouco a uma tentativa da oposição de tirá-la do cargo. Agora, May terá que consultar os parlamentares sobre que mudanças precisam ser feitas para salvar o acordo e retornar a Bruxelas com o pires na mão. O tempo urge: o prazo para a saída do Reino Unido do bloco é 29 de março. Se até lá não houver consenso com os europeus que agrade ao parlamento britânico, o divórcio ocorrerá sem acordo, o que seria um desastre do ponto de vista comercial tanto para os britânicos como para a Europa continental. Para evitar o pior, há uma possibilidade de a UE estender o prazo de negociação. Todas as opções frustram as fantasias que os britânicos tinham sobre o Brexit.

 


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