Divisões sobre eliminação dos combustíveis fósseis ameaçam afundar COP30

A conferência sobre a mudança climática de Belém (COP30) entrou em seu momento crítico neste sábado (22), fora do prazo, após duas semanas de negociações, paralisadas por uma menção sobre a eliminação gradual das energias fósseis.

O financiamento da adaptação à mudança climática, como pressionar os países a apresentar planos para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e as barreiras ao comércio são outros temas no centro das discussões.

Sob a presidência brasileira, os negociadores mantiveram reuniões quase sem pausa durante 24 horas.

Uma plenária de encerramento estava prevista para as 10h00, embora as reuniões nas salas da grande tenda instalada no Parque da Cidade de Belém continuassem pouco antes deste horário, verificou a AFP.

Esta tenda foi atingida por um incêndio na quinta-feira, rapidamente controlado, que acrescentou drama à Conferência das Partes (COP), a primeira na Amazônia.

“Não vamos a lugar nenhum”, declarou a ministra francesa da Transição Ecológica, Monique Barbut, ao chegar à sede da COP30 na manhã de sábado.

O grande obstáculo foi originalmente uma ideia ousada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: após o acordo histórico da COP28 para iniciar uma transição para abandonar os combustíveis fósseis, o mandatário propôs em Belém publicar um mapa do caminho com diretrizes.

Este mapa do caminho era reivindicado por pelo menos 80 países europeus, latino-americanos e insulares, com especial protagonismo de Colômbia e Espanha.

A União Europeia suscitou a possibilidade de sair “sem acordo”, o que representaria um fracasso para o Brasil.

Os europeus encontram-se “isolados” em sua rejeição ao texto. Alguns países desejam abandonar a mesa de negociações e outros “temem (…) ter que assumir a responsabilidade” pelo fracasso da cúpula, segundo uma delegação de um país da UE.

O enviado da COP30 para o sul da Ásia, o indiano Arunabha Ghosh, fez um apelo para que não se deixem distrair pelo “ruído” e se concentrem “no essencial”: “O acesso à energia para os mais pobres, a segurança energética para todos e a sustentabilidade energética para o planeta”.

– Triplicar apoio para adaptação –

O rascunho do acordo pede “esforços” para triplicar o financiamento destinado à adaptação dos países pobres à mudança climática.

Mas negociadores de países ricos recordam que no ano passado, na COP29 em Baku, já foi acordado aumentar o financiamento para os esforços climáticos, concretamente para 300 bilhões de dólares (R$ 10 trilhões, na cotação da época) anuais.

Agora trata-se simplesmente de reequilibrar a composição desta ajuda, para que a mitigação (medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa) não consuma a maior parte do esforço. Adaptar-se à mudança climática é igualmente importante, sinalizam especialistas.

Após o fracasso de uma longa reunião ao meio-dia de sexta-feira, a presidência brasileira mudou o formato e manteve conversas à tarde a portas fechadas, quase sem interrupção, com grupos reduzidos de países, representativos dos diferentes blocos.

O presidente da COP30, o embaixador André Corrêa do Lago, instou à obtenção de um compromisso ou, caso contrário, aqueles que duvidam do multilateralismo “vão ficar absolutamente encantados”.

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