18/11/2021 - 18:00
O dispositivo intrauterino, popularmente conhecido como DIU, é um método contraceptivo em destaque entre os demais nos últimos anos, considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) um dos mais eficazes (percentual de eficácia acima de 99%). “O objeto em forma de T é introduzido no útero para evitar a gravidez. Ou seja, protege contra a implantação do embrião, por isso, não é considerado abortífero”, explica Waldemar Carvalho, ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana.
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A alta eficácia desse contraceptivo varia de 5 a 10 anos, conforme seu material e classificação — método de barreira (não é hormonal e pode ser revestido com prata e cobre ou somente com cobre) e hormonal (DIU Mirena ou Kyleena). As opções diferem na ação e indicações; entenda:
• Método hormonal: libera gradualmente o hormônio levonorgestrel no útero. Pode beneficiar mulheres com fluxo menstrual intenso, endometriose ou adenomiose, pois ameniza essas condições e, em alguns casos, diminui o crescimento do tecido endometrial ou contém o avanço da doença em relação ao fluxo menstrual. As opções Mirena ou Kyleena têm eficácia de 6 e 5 anos, respectivamente, e a principal diferença está no tamanho e quantidade de hormônios liberados — a primeira se destaca em ambos os quesitos.
• Método não hormonal: tem proteção de cerca de 10 anos. Previne a fertilização, provocando mudanças na camada interna do útero e interferindo no tempo de sobrevivência do espermatozoide. É recomendado para mulheres com fluxo menstrual normal. A diferença entre as duas opções sem hormônios está na que possui revestimento de prata, material que é liberado no útero e ameniza o risco de oxidação, tem maior efeito contraceptivo e favorece a redução do fluxo menstrual. Além disso, ambos possuem menos efeitos colaterais, podem ser utilizados em qualquer idade e não interferem durante a amamentação.
Contraindicações
São poucas as contraindicações desse método contraceptivo:
• Mulheres virgens: porque não têm acesso adequado para implantar o dispositivo. “Atuando há mais de 20 anos como ginecologista, já tive que lidar com situações em que mulheres virgens receberam indicações para implantar o DIU hormonal, a fim de conter o sangramento intenso. Nessas pacientes, a colocação precisa ser realizada através de autorização e efeito sedativo em ambiente hospitalar”, esclarece o especialista;
• Casos de processos infecciosos: mulheres com secreção vaginal bacteriana não podem colocar o dispositivo intrauterino, devido ao alto risco de transmissão de bactérias da vagina para o útero, que pode desencadear em quadro grave de infecção generalizada na pelve;
• Gestantes ou suspeitas de gravidez: mulheres que pretendem colocar DIU e estão com a menstruação atrasada precisam descartar a suspeita de gravidez;
• Suspeita de câncer do endométrio: em caso de sangramento intenso antes da inserção do DIU, é de suma importância investigar a causa e descartar o câncer do endométrio;
• Não aceitar o método: é imprescindível estar ciente e à vontade para implantar o DIU. “O médico não deve forçar a paciente a colocá-lo contra a própria vontade”, reforça Waldemar.
Pode prejudicar a saúde?
De acordo com o ginecologista, o objeto é um pertuito (passagem estreita), que liga a vagina ao interior do útero através de um fio aderido na ponta. Portanto, as infecções são os principais pontos de atenção após a inserção.
Mulheres com vida sexual ativa, que não fazem o uso de preservativo e se relacionam com diferentes parceiros, tendem a ser mais suscetíveis às infecções vaginais, principalmente às doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) como, clamídia, gonorreia e outros agentes infecciosos graves que podem desencadear inflamação no útero ou infertilidade.
“É possível transferir a infecção para as trompas (piossalpinge). As trompas podem ser obstruídas e têm como sequela a infertilidade e, como causa aguda, a doença inflamatória pélvica. É essencial a indicação precisa e a colocação do DIU por um ginecologista experiente, visto que a inserção inadequada pode causar prejuízos para a saúde feminina”, destaca.
Consequências no fluxo menstrual e nas cólicas
Nos três primeiros meses — fase de adaptação ao dispositivo —, é comum o sangramento irregular, inclusive após as relações sexuais, e escapes frequentes. Caso os sintomas persistam após esse período, é importante consultar o ginecologista.
Apesar da dose padrão de hormônios no método Mirena e Kyleena, a reação do organismo após a adaptação é particular. Waldemar explica que “após o primeiro trimestre, o corpo tende a regular e determinar o padrão do fluxo menstrual, que pode ser com alguns escapes, diminuição (esporádico) ou suspensão completa da menstruação”.
Já a opção sem hormônio pode refletir nas cólicas menstruais. Nos casos de incômodo intenso durante a relação sexual ou aumento do fluxo menstrual, pode ser necessário remover o dispositivo.
Mulheres que não tinham cólicas antes da inserção devem permanecer sem o sintoma. No entanto, se isso acontecer após o DIU, indica que o método pode não ser adequado, necessário a remoção e escolha de outro contraceptivo.
Como é realizada a inserção no útero
Antes de realizar a inserção, é preciso estar em dia com as consultas ginecológicas e seus exames, como o papanicolau. Certificar que a saúde está em boa condição pode refletir no procedimento e funcionamento do método.
Alguns exames pontuais devem ser solicitados pelo médico antes da colocação do dispositivo, como ultrassom pélvico e transvaginal, que além de rastrearem se há presença de doenças, identificam as medidas e posicionamento do útero. “O exame ginecológico prévio com manipulação do útero e grau de sensibilidade da paciente é essencial para identificar se o DIU pode ser colocado com ou sem sedação”, detalha o especialista em reprodução humana.
No dia do procedimento, estar menstruada pode amenizar o desconfortável durante a inserção. Segundo o especialista, o médico pode fazer uma anestesia local e um teste antes de abrir o dispositivo, para ter a certeza que a paciente tolera a sensação de cólica, afinal, todas as manipulações do útero podem cursar com um processo reativo, chamado reflexo vagal — cólica intensa que pode causar uma bradicardia (ritmo cardíaco irregular ou lento), além de sensação de desmaio no momento da colocação.
O DIU pode guiado por ultrassonografia pélvica. “O ultrassom mostra o local exato para abrir o dispositivo no útero. Também pode ser colocado com a visão direta através da histeroscopia, um aparelho com uma câmera, como uma endoscopia do útero, para identificar se o objeto está bem posicionado”, explica, ressaltando ainda que essa não é uma condição obrigatória para inserção.
O modelo de termo de consentimento informado para colocação do dispositivo intrauterino, exposto em nota técnica publicada em 2019 pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, destaca: “A inserção do DIU não é isenta de riscos, podem ocorrer, em casos raros, perfuração uterina, hemorragia e infecção. O índice de expulsão do DIU é em torno de 12% a 30% em até um ano depois da inserção, mas pode ser inserido novamente caso queira”.
Diante dessas condições, Waldemar Carvalho reforça que somente um médico capacitado saberá lidar prontamente com a situação e quantificar o grau de dor antes da colocação do dispositivo. Assim, se a paciente for tolerante à dor, o DIU pode ser colocado no consultório, caso contrário, o procedimento deve ser realizado com sedação.
Mulheres que são mães, principalmente aquelas que passaram por um parto normal, apresentam maior volume do útero. Nesses casos, a inserção tende a ser mais fácil e indolor.
Cuidados necessários e vida sexual
As cólicas costumam acontecer nos dois primeiros dias. Caso persista após esse período, é necessário voltar ao consultório ginecológico para verificar a ocorrência do incômodo.
Ao completar um mês, o especialista recomenda realizar um novo ultrassom para analisar a posição do DIU e verificar se houve perfuração no útero, devido às cólicas. Após esse tempo, os próximos retornos devem acontecer semestralmente.
Durante a adaptação, esse não deve ser o único método contraceptivo. “Quando o DIU é colocado no período menstrual, já no primeiro mês a mulher estaria protegida. Entretanto, como o objeto pode se movimentar no útero, aconselhamos o uso de preservativo ou manutenção da pílula anticoncepcional até se certificar que o dispositivo está no local correto após os 30 dias de inserção”, aconselha.
As relações sexuais não são afetadas, visto que o DIU não é localizado na vagina, somente seu fio sai pelo canal do colo do útero. O ginecologista destaca que “o método não hormonal possui um fio extremamente fino — estilo algodão —, por isso, não costuma ser sentido durante a penetração. Já o hormonal é composto por um cordão mais grosso, o que pode incomodar durante a penetração. Quando isso acontece é necessário procurar o médico, pois somente o profissional poderá cortar o fio”.
Engravidar usando DIU
Apesar de mínimo, ainda existe risco de gravidez. Nesse caso, é necessário consultar o obstetra para identificar se há necessidade de retirar o dispositivo ou mantê-lo durante toda a gestação.
Engravidar usando DIU pode ser uma situação complexa, porque não removê-lo no início pode ocasionar em hemorragia ou rompimento da bolsa, causando prematuridade no feto. Por outro lado, a extração do dispositivo também pode trazer complicações. “Tudo depende da localização da inserção da placenta e da localização do objeto, para que durante a retirada não ocorra o aborto”, alerta o ginecologista.
Valores e cobertura pelo plano de saúde e SUS
Os valores do DIU variam conforme as opções. O método revestido de cobre custa em média de R$ 100 a R$ 300, já o modelo de prata tende a variar de R$ 250 a R$ 450. Os hormonais, Mirena e Kyleena, são mais caros, cerca de R$ 800 a R$ 1.500.
Além do dispositivo, é preciso arcar com os honorários médicos, que variam de acordo com o local de atendimento, materiais e técnica do profissional — média de R$ 500 a R$ 2.500.
Quando solicitado pelo médico, a inserção tem cobertura obrigatória pelos planos de saúde regulamentados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Segundo consta na Resolução Normativa n° 465/2021, ambos os métodos (hormonal ou não hormonal) devem ser obrigatoriamente custeados pelos planos.
O dispositivo revestido de cobre é ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), disponibilizado em Unidades Básicas de Saúde (UBS) e hospitais com atendimento ginecológico.