“Se eles tivessem ganhado essa guerra, vocês não estariam aqui hoje me entrevistando”: o ex-capitão do Exército Jair Bolsonaro, favorito a vencer no segundo turno as eleições presidenciais, voltou a justificar, nesta quarta-feira (17), o regime militar, que governou o Brasil entre 1964 e 1985.

“Eles” seriam os militantes de esquerda que tomaram as armas, em plena Guerra Fria, pouco após a Revolução Cubana de 1959. A repressão perseguiu operários, camponeses, comunidades eclesiásticas, estudantes e artistas.

Em 31 de março de 1964, os militares depuseram através de um golpe o presidente eleito João Goulart. Cinco generais se sucederam no poder: Alencar Castelo Branco (1964-67), Artur da Costa e Silva (1967-69), Emilio Garrastazu Médici (1969-74), Ernesto Geisel (1974-79) e João Figueiredo (1979-85).

O regime expurgou o Congresso e o reorganizou com um partido da situação (Arena) e uma oposição controlada (MDB).

Em 1968, o Ato Institucional número 5 (AI-5) proibiu manifestações, instituiu a censura prévia e pôs os julgamentos políticos nas mãos de tribunais militares.

Opositores e artistas foram detidos e muitos se exilaram, como Gilberto Gil e Caetano Veloso.

O governo incentivou o investimento externo e as exportações através de desvalorizações da moeda, controlou os salários e proibiu as greves. Estas foram as bases do “milagre econômico”, que, no começo dos anos 1970, fez triplicar a produção de automóveis e disparar a construção civil.

Mas também provocou o rápido crescimento da dívida externa e uma maior exposição às flutuações do mercado internacional. O “milagre” foi freado pela crise mundial do petróleo, em 1973.

Um dos pilares da repressão foi o Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pelo general Golbery de Couto e Silva. O nome destes e de outros organismos (CEI, Codi-Doi, DOPS) são sinônimos de centros clandestino de tortura e desaparecimento de pessoas.

Durante os chamados “anos de chumbo”, o Brasil cooperou com o Plano Condor de coordenação repressiva entre as ditaduras sul-americanas.

A perseguição contou com o apoio de multinacionais. A Volkswagen investiga denúncias que seus diretores entregaram militantes operários.

Uma parte da esquerda pegou em armas. Entre suas ações, destacaram-se os sequestros, entre 1969 e 1970, dos embaixadores dos Estados Unidos, Alemanha e Suíça, trocados por dezenas de presos políticos.

Um foco guerrilheiro foi dizimado no Araguaia (norte) em meados dos anos 1970.

A eliminação de opositores era decidida no Palácio Presidencial.

Segundo a Comissão Nacional da Verdade, houve 434 assassinatos.

Esta cifra não inclui as centenas de vítimas de milícias contratadas para reprimir conflitos agrários, nem as matanças de indígenas no avanço da ocupação do território pelo Estado.

O recuo militar começou em 1975, em um marco de contestação social e deterioração da economia.

Em 1978, desencadearam-se grandes greves operárias em São Paulo, comandadas por aquele que viria a ser presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

A anistia, em 1979, permitiu o retorno de milhares de exilados e livrou da Justiça responsáveis por torturas e assassinatos.

A saída dos militares se deu através de eleições indiretas.