Apesar de Nicolás Maduro ter recuperado a Assembleia Nacional, o único Poder que estava nas mãos da oposição, desde 2016, a baixíssima participação popular no pleito de domingo, 6, reafirmou o que já se sabia havia muito tempo. Os venezuelanos rejeitam o regime e estão cansados. Pouco mais de seis milhões pessoas se dirigiram as urnas, o que representa apenas 30,5% do contingente eleitoral, de 20 milhões de pessoas.

Sem nenhuma surpresa, a coalizão de forças governistas, Grande Pólo Patriótico, comandada por Maduro, obteve 67% dos votos. Significa que a partir de 5 de janeiro tudo o que o chavismo quiser será aprovado pelo Parlamento —mais uma instituição manietada pela ditadura.

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Erro estratégico

As principais forças de oposição, lideradas por Juan Guaidó, o atual presidente da Assembeia Nacional e autoproclamado presidente venezuelano, denunciaram a eleição como uma fraude. Por isso, optaram pelo boicote. Acusam o chavismo de ter comprado pessoas nos dias anteriores à votação — oferecendo vantagens econômicas, como cestas básicas, por exemplo. Há casos de forças policiais que entraram nas casas obrigando as pessoas a votar nos candidatos do regime. Dessa forma, o alto escalão chavista triunfou. Figuras como os ex-presidentes da Assembleia Nacional Diosdado Cabello e Fernando Soto Rojas e a primeira-dama Cilia Flores vão compor o Parlamento. Para Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais da Unifesp, não há transparência. “A máquina eleitoral foi dominada pelo governo”, afirma.

Depois de se abster, o oposicionista Juan Guaidó não será mais congressista a partir de janeiro. A oposição perde sua principal voz

O resultado não muda a situação de um regime amplamente repudiado pela comunidade internacional. Mais de 50 países ao redor do mundo, entre eles o Brasil, além de instituições como a OEA, não reconhecem o resultado do pleito. A ditadura de Nicolás Maduro é considerada uma usurpação do poder. O slogan de Guaidó nessas eleições foi: “fim da usurpação, eleições livres e governo de transição”. Isso agora parece impossível. A estratégia da oposição, considerada por muitos um erro, proporcionou a Maduro quatro anos de atuação sem freio. Ele ainda conta com os apoios de Rússia, China, Irã e Turquia. O novo governo Joe Biden pode pressionar esses países para exigirem mudanças, mas ainda é incerta a tática que o democrata adotará. Conclusão: com a economia em frangalhos, a população venezuelana continuará seu calvário.