A disputa entre a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos nas últimas negociações sobre a produção de petróleo na OPEP+ colocou sob os holofotes as crescentes divergências entre estes dois aliados, em meio a desafios econômicos que se antepõem à amizade.
Os Emirados se opuseram esta semana à prorrogação “injusta” de um acordo que limita a produção de petróleo, apoiada pela Arábia Saudita durante as negociações na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e seus países parceiros (OPEP+).
Após vários atrasos, as negociações foram adiadas na segunda-feira (5), por tempo indeterminado – um revés incomum para a Arábia Saudita, o maior exportador de petróleo do mundo e a maior economia do mundo árabe.
As divergências entre os países do Golfo são tratadas discretamente dentro dos palácios.
Essa discórdia pública sem precedentes se inscreve em um contexto mais amplo, com interesses conflitantes entre os dois países nos últimos anos em vários campos.
Os observadores descartam uma ruptura completa.
A relação entre os príncipes da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, e de Abu Dhabi (capital dos Emirados), Mohamed bin Zayed, é considerada boa. Eles são conhecidos por suas iniciais MBS e MBZ e governam de fato seu país rico em petróleo e, até recentemente, faziam uma diplomacia paralela.
– Finanças em primeiro lugar –
A disputa entre esses dois países do Golfo se deve à rivalidade econômica. Os dois tentam aproveitar ao máximo as reservas de petróleo, enquanto se preparam para a era pós-petróleo.
Riade começou recentemente a diversificar sua economia, que é fortemente dependente do petróleo. Seu vizinho começou a fazê-lo há décadas.
A Arábia Saudita “sofreu 50 anos de letargia no campo da política econômica e do dinamismo, agora é a hora de recuperar o atraso”, estima Ali Shihabi, assessor do governo saudita.
Segundo ele, os Emirados devem agora “abrir espaço”.
A Arábia Saudita espera competir com os Emirados, que se tornaram um grande centro econômico e comercial, classificado pelo Banco Mundial como um dos países mais fáceis de se fazer negócios.
Dubai em particular, um dos sete principados que compõem os Emirados, tem a economia mais diversificada do Golfo (finanças, turismo, transporte e tecnologia).
A Arábia Saudita lançou recentemente uma campanha para seduzir investidores internacionais, mas sua burocracia e estilo de vida ultraconservador assustam os expatriados.
Os dois vizinhos querem “priorizar o futuro de (suas) finanças, em vez da amizade”, observa Kirsten Fontenrose, pesquisadora do “think tank” Atlantic Council.
Este confronto é ditado apenas pelas “realidades econômicas”, e os rumores de ruptura são “exagerados”, segundo ela.
– “Golpes baixos” –
Em fevereiro, Riade deu um ultimato às empresas estrangeiras que buscavam contratos públicos no reino: até 2024, devem instalar ali suas sedes regionais. A maioria já está em Dubai.
“Houve alguns golpes baixos do nosso vizinho, mas as diferenças permanecerão sob controle, se Deus quiser”, garante à AFP um assessor do governo dos Emirados que pediu para não ser identificado.
“Estão surgindo novas alianças na região. Estão surgindo dois campos”, acrescentou, sem especificar quais.
A primeira grande cisão surgiu em 2019, quando os Emirados começaram a se retirar do conflito no Iêmen, onde se envolveram junto com a Arábia Saudita em uma coalizão militar contra os rebeldes huthis.
Em guerra há quase sete anos, o Iêmen é vítima da pior catástrofe humanitária do mundo, segundo a ONU.
Essa decisão criou um “mal-estar”, segundo Ali Shihabi.
“Os sauditas esperavam uma retirada mais lenta e coordenada dos Emirados, mas fizeram seus próprios cálculos”, analisa.
A diplomacia regional também dividiu os dois parceiros. Em setembro de 2020, os Emirados concluíram um acordo de normalização com Israel. A Arábia Saudita ainda insiste na necessidade de resolver a questão palestina antes de dar um passo semelhante.
Em janeiro, Riade tentou resolver uma disputa de três anos entre a Arábia Saudita e seus aliados contra o Catar. Abu Dhabi se conteve em restabelecer relações mínimas com Doha.