DECISÃO JUDICIAL Lojas responsáveis pela venda de souvenirs: fechadas desde junho (Crédito:Divulgação)

Interesses políticos, comerciais e econômicos, além de uma absurda e tola briga de egos, transformaram o monumento do Cristo Redentor, localizado no Rio de Janeiro (e um dos principais cartões-postais do Brasil desde a década de 1930), no epicentro de uma disputa entre o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e a Arquidiocese do estado. Tudo começou quando o órgão federal impediu o ingresso do padre Omar Raposo no Santuário, que fica na base do Cristo. Segundo o ICMBio, responsável pelo afluxo de pessoas ao Parque Nacional da Tijuca, o padre não estava devidamente autorizado e nem constava o agendamento de nenhuma missa, casamento ou qualquer outra celebração que justificasse a sua entrada. Ocorre, porém, que Raposo é o reitor do Santuário, o que, por si só, já lhe dá autonomia no local. E, ao contrário do que alegou o ICMBio, havia, sim, um batizado programado.

Diante do impedimento da liberação para que o padre Raposo, os pais da criança e os padrinhos chegassem ao Santuário, o batismo só aconteceu após muita discussão. A Arquidiocese do Rio de Janeiro abriu, então, um boletim de ocorrência contra o ICMBio, alegando intolerância religiosa. Já o padre Raposo não se deu por satisfeito, e viajou a Roma com a finalidade de apresentar o caso às autoridades eclesiásticas do Vaticano. “De maneira recorrente, o padre, bispos e outros religiosos (…) passam por constrangimentos ao tentarem acessar o Santuário”, esclareceu a Arquidiocese, em nota pública, na qual também afirma que, no espaço de onze dias, ao menos três funcionários foram igualmente barrados. O ICMBio, por sua vez, declarou que, “por questões (…) de conservação do ambiente, todos os veículos e pessoas que vão às áreas restritas precisam se identificar”. O Cristo Redentor é administrado pelos religiosos, e isso abrange o local onde são celebrados casamentos, missas e batizados. Ao ICMBio cabe zelar por toda a área do Parque Nacional da Tijuca. Dessa combinação nascem disputas pelo controle e mando. Segundo a Arquidiocese, uma outra celebração já foi prejudicada pelo ICMBio: “Após a oração, seria oferecido café da manhã gratuitamente aos convidados, mas a entidade federal vetou o acesso à água”.

BARRADO Padre Omar Raposo: viagem ao Vaticano para denunciar intolerância do ICMBio (Crédito:Hermes de Paula)

Existem duas maneiras de se chegar ao monumento, e ambas envolvem interesses comerciais. A primeira delas é por meio do Trem Corcovado, da Arquidiocese, que cobra uma taxa oscilando (conforme o dia da semana) entre R$ 27 e R$ 88. Já na segunda opção, o visitante é transportado pela van do ICMBio, a preços que se estendem de R$ 28,20 a R$ 91,40. Na verdade, esse órgão federal está autorizado a cobrar bilhetes para quaisquer pontos do Parque Nacional, mas só a visita ao Cristo é taxada.

A disputa, que agora vem a público e ganhou espaço até na mídia internacional, é longínqua. No ano passado, houve um caso que acionou a Justiça Federal do Rio de Janeiro: o ICMBio reivindicou a reintegração de posse de seis lojas de souvenirs que estão aos pés do Redentor. A Justiça deu-lhe razão, o comércio foi paralisado e as lojas, desocupadas. Após a determinação judicial, qualquer visitante precisa levar a sua própria alimentação, já que não é mais possível comprar nenhum tipo de alimento no local. O atrito não chegará tão cedo ao final, e o monumento, eternizado nos versos “Cristo Redentor, braços abertos sobre Guanabara”, compostos por Tom Jobim, terá sua imagem associada muito mais às brigas pelo poder que ao lindo “Samba do avião”. A reportagem de ISTOÉ procurou a Arquidiocese e o ICMBio, mas ambos não se manifestaram.