Os atos terroristas de 8 de janeiro devem impactar uma das disputas mais importantes do biênio na política nacional: a corrida pela presidência do Senado. O “Capitólio brasileiro” ampliou o clima de polarização da eleição protagonizada entre Rodrigo Pacheco (PSD), franco favorito e apoiado por Lula, e Rogério Marinho (PL), aposta de Jair Bolsonaro. O embate tende a ser transformado em um plebiscito sobre o plano de consolidação da harmonia entre os Três Poderes após quatro anos marcados pela beligerância do ex-presidente. A horda em torno do ex-mandatário trata o confronto como uma pauta cara por entender que a ascensão de Marinho ao comando do Congresso pode significar um suspiro ao bolsonarismo e abrir as portas para um contragolpe aos algozes do capitão, ainda que o ex-ministro tenha a fama de “comedido”.

Estimulado pelo ex-presidente, o entorno de Marinho organiza uma ofensiva para incendiar o jogo, que, por ora, tem Pacheco como o candidato ideal, sobretudo por ter se posicionado na defesa das instituições democráticas. Aliados do ex-ministro disseminam nos corredores do Salão Azul a estimativa de que ele conta com pelo menos 35 congressistas e pode chegar a 44 — três a mais do que o necessário para a vitória. Números contestados pelos coordenadores da campanha do atual presidente do Senado, que disputa um segundo mandato. Nomes próximos a Marinho ainda pressionam Eduardo Girão (Podemos) a desistir da própria candidatura e fortalecer as trincheiras do ex-ministro, posicionando-o como único nome bolsonarista.

Para tirar os votos do papel, Marinho aposta no corpo a corpo. O senador eleito já passou por todas as regiões do País para tête-à-têtes com colegas. Nos encontros, evoca um discurso que soa como música para os bolsonaristas. Diz que, sob Pacheco, o Senado pode virar um “puxadinho” do governo Lula. Enquanto Marinho vai a campo, a organizada claque bolsonarista recicla táticas do “gabinete do ódio”, emplacando um linchamento virtual contra o pessedista, com a hashtag #PachecoNao. Nas redes, militantes e parlamentares lhe fazem duras críticas por não ter levado adiante o impeachment de integrantes do Supremo, já que cabe ao presidente do Senado a prerrogativa de dar andamento a esses processos. Dentro das estratégias de jogo pesado contra Pacheco, o PL pretende, inclusive, mudar as regras do jogo no dia da eleição. Integrantes da bancada bolsonarista planejam apresentar uma questão de ordem para estabelecer o voto aberto e, assim, buscar constranger aliados de Pacheco.

REPARAÇÃO Operários trabalhavam na quarta-feira, 18, na limpeza da cúpula do Senado vandalizada pelos terroristas que atacaram a sede dos Poderes dez dias antes (Crédito:Pedro Fran)

Fiador da democracia

Entusiastas da candidatura de Pacheco minimizam as investidas bolsonaristas e crêem que basta ele “jogar parado” para vencer o jogo. Avaliam que seu nome cresceu na Casa durante o último mandato ao atuar como um fiador da democracia e conduzir votações importantes para o País, apesar dos impropérios de Bolsonaro contra ele. Os aliados do pessedista esperam que, no mínimo, ele repita o desempenho de 2019, quando venceu Simone Tebet por 57 a 21 votos, dado que conta com o apoio do PSD, MDB, PT, União Brasil, PDT, PSB, além de votos soltos de outras bancadas, como a do PSDB. “Rodrigo mostrou equilíbrio e altivez. Equilíbrio para, em um momento delicado, ter condenado a ação deliberada de Bolsonaro de incitar a desarmonia entre os Poderes, ter fortalecido a Casa com moderação, defendido o sistema eleitoral e intermediado diálogos”, justificou o primeiro vice-presidente do Senado, o emedebista Veneziano Vital do Rêgo, que completou: “Ele não se aquietou perante as tentativas do ex-presidente Bolsonaro de provocar instabilidade e foi justamente essa postura que permitiu que, hoje, as instituições tenham assegurado a preservação da democracia”. O líder do governo no Senado, Randolfe Rodrigues, faz coro. “Nesse momento de abalo institucional, há uma inevitabilidade de todos os democratas apoiarem Pacheco.”

Favas contadas na câmara

Arthur Lira, se fortaleceu na gestão Bolsonaro graças ao Orçamento Secreto e chegou a ser tratado como “primeiro-ministro informal”. Por isso, não vê no horizonte qualquer oponente na disputa pela presidência da Câmara. O deputado tem a seu lado apoiadores de todos os espectros políticos, do PL ao PT. Não à toa, a previsão é de que o manda-chuva do PP vença a eleição com um placar ainda mais elástico do que o de 2019, quando, com 302 votos, bateu Baleia Rossi e Fábio Ramalho. Mas, como o seguro morreu de velho, Lira prepara uma programação robusta para os dias que antecedem a eleição e pretende ouvir todas as demandas de deputados em uma espécie de open house, com café da manhã, almoço e jantar.