Dispositivo permite recuperar controle de membros paralisados em macacos

Dispositivo permite recuperar controle de membros paralisados em macacos

Um novo dispositivo permitiu que dois macacos recuperassem o uso de suas pernas paralisadas ao transmitir sinais cerebrais sem fio, contornando suas lesões na medula espinhal, segundo um estudo publicado na quarta-feira pela revista científica Nature.

O dispositivo implantável, chamado interface neuroprotética, foi desenvolvido por uma equipe internacional liderada por pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), na Suíça, e poderá ser testado em breve para tratar casos de paralisia em seres humanos.

“Pela primeira vez, posso imaginar um paciente completamente paralisado capaz de mover suas pernas através dessa interface cérebro-coluna”, disse Jocelyne Bloch, neurocirurgiã do Hospital Universitário de Lausanne, em um comunicado da EPFL à imprensa.

A interface concebida na EPFL consiste em um conector de múltiplos componentes entre o cérebro e a coluna, que é implantado e decodifica sinais da parte do córtex motor responsável pelos movimentos das pernas.

Em seguida, retransmite esses sinais em tempo real para a região lombar da coluna vertebral que ativa os músculos das pernas para andar.

Nos dois casos de testes com macacos, a interface foi capaz de retransmitir sem fios as instruções de movimento, contornando a área danificada da coluna que causava a paralisia, disse a EPFL.

Um dos macacos recuperou parcialmente o uso da perna paralisada na primeira semana após a implantação do dispositivo, enquanto o outro precisou de duas semanas para conseguir caminhar, disse a Nature em uma nota de imprensa.

A revista observou que a tecnologia implantável que decodifica sinais cerebrais permitiu anteriormente que um paciente humano movesse uma mão protética ou robótica.

Mas a utilização de uma interface neuroprotética para ativar um músculo complexo da perna em um primata foi um feito inédito, acrescentou a Nature.

O cientista líder do projeto inovador, Gregoire Courtine, da EPFL, alertou que “pode ​​levar vários anos até que todos os componentes desta intervenção possam ser testados em pessoas”.

Segundo o cientista Andrew Jackson, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, citado pela Nature, é possível que os primeiros ensaios clínicos com humanos possam ser realizados “antes do final desta década”.

A ideia da interface foi concebida na Escola Politécnica Federal de Lausana e desenvolvida com a participação internacional da Universidade Brown, no estado americano de Rhode Island, do instituto alemão Frauenhofer ICT-IMM e da empresa de dispositivos médicos Medtronic, com sede em Dublin, entre outros.