Enquanto seu primeiro-ministro fazia acordos históricos em Washington, a israelense Tammy Shalev tentava adormecer, perturbada pelas explosões, a poucos quilômetros de sua casa, de foguetes lançados da Faixa de Gaza.

Para ela, a normalização das relações entre Israel e dois países árabes, Emirados Árabes Unidos e Barein, é “positiva”, mas não prioritária.

Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, saudava “um novo Oriente Médio” e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu considerava que os acordos poderiam encerrar o conflito árabe-israelense “de uma vez por todas”, Shalev se alojou em um refúgio de sua cidade de Sderot, no sul de Israel.

Na terça-feira à noite, no momento da assinatura dos acordos em Washington, sirenes soaram em várias cidades israelenses próximas ao enclave palestino de Gaza, alertando sobre o disparo de foguetes, um dos quais caiu em Ashdod, deixando dois feridos.

E, na manhã desta quarta-feira, a Força Aérea Israelense bombardeou alvos no enclave, enquanto mais foguetes eram disparados contra o sul de Israel.

Shalev trabalha com ciência da computação e se diz “favorável” a esses acordos “positivos a longo prazo”. “Mas enquanto isso, ainda há ataques e ainda não conseguimos dormir”, lamenta.

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“É sobretudo uma coisa boa no papel, mas não faz diferença no nosso quotidiano e estes acordos limitam-se a fazer as pazes com aqueles com quem já estávamos em paz”, disse.

Israel já havia assinado dois acordos de paz com os estados árabes Egito (1979) e Jordânia (1994), após enfrentar várias guerras, mas nunca esteve em guerra com os Emirados e Barein.

– “Forçados à paz” –

“É fácil ficar em paz com países com os quais não temos problemas, mas continuamos a sofrer enquanto ele (Netanyahu) fizer acordos de paz com outras partes”, disse Yehuda Ben Lulu, usando um kipá preto e branco.

“Não estou zangado com ele, mas primeiro ele deve resolver o problema com Gaza”, disse o homem de 59 anos, na praça principal de Sderot, uma cidade de cerca de 27 mil habitantes localizada bem perto de Gaza.

A Faixa de Gaza é governada desde 2007 pelo movimento islâmico armado Hamas, um ferrenho inimigo de Israel, país que impôs um bloqueio estrito ao enclave.

Desde então, Hamas e Israel travaram três guerras e as trocas de tiros ocorrem esporadicamente.

O ex-carpinteiro David Amar, 70, segura sob o braço um exemplar do jornal gratuito Israel Hayom, cujo título é “Um Novo Oriente Médio”.

“Se os grandes atores regionais fizerem as pazes conosco, isso certamente forçará (o presidente palestino) Mahmoud Abas a fazer o mesmo”, disse Amar, um fervoroso apoiador de Netanyahu.

“Os palestinos serão forçados a fazer a paz, mas precisarão de novos líderes, porque Mahmoud Abbas é muito velho”, acrescenta o homem, apoiado em muletas e cujo boné preto cobre uma mecha de cabelos grisalhos.

Mas Abas, que mora na Cisjordânia, território palestino separado de Gaza e ocupado desde 1967 pelo exército israelense, alertou na noite de terça-feira que “não haverá paz” sem o fim da “ocupação israelense”.



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