Os 28 países europeus tiveram nesta quinta-feira um “acalorado debate” sobre a acolhida de refugiados, uma questão polêmica e delicada que envolveu o primeiro dia da Cúpula de Bruxelas.

Dois anos após o pico da chegada de imigrantes às costas europeias, as divisões abertas dentro do Bloco com as cotas obrigatórias de acolhida de refugiados se mantêm, especialmente entre países do oeste e do leste da UE.

O debate em um jantar a portas fechadas no primeiro dia da Cúpula não deu origem a conclusões escritas, enquanto se tenta acertar uma resposta duradoura para este fenômeno, “um longo processo que já apresenta resultados”, segundo uma fonte europeia.

“O debate foi acalorado porque as divergências são grandes”, admitiu o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte.

A chanceler alemã, Angela Merkel, máxima defensora da acolhida de refugiados no início da crise, disse que “os pontos de vista de uns e de outros não mudaram” e é preciso seguir “trabalhando”.

Com uma menor pressão migratória no solo europeu, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, propôs uma discussão “franca” sobre imigração, sem conclusões e a portas fechadas.

“As cotas dividiram realmente a UE, devemos ser prudentes no futuro”, declarou o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, cujo país integra o Visegrado, grupo de Estados da antiga órbita soviética opostos ao acolhimento de imigrantes.

Com a chegada de milhares de imigrantes à Europa, principalmente sírios fugindo da guerra em seu país, a UE flexibilizou suas regras migratórias e adotou um plano para dividir este contingente.

O plano de recolocação foi baseado em um sistema de cotas entre os países europeus, o que provocou a rejeição de alguns estados do Leste.

Bruxelas decidiu assumir as rédeas sobre a questão e na quinta-feira passada levou à justiça europeia República Tcheca, Hungria e Polônia por não cumprir suas cotas.

“Cada um deve fazer a sua parte para se encontrar uma boa convergência”, declarou o presidente francês, Emmanuel Macron, para quem a reforma da política migratória “precisa expressar solidariedade sem cair em bloqueios”.

O presidente do Conselho Europeu, que coordena os trabalhos, quer desbloquear esta reforma antes de junho de 2018, mas suas críticas à política de cotas, lhe valeram críticas do executivo comunitário.

O comissário europeu de Imigração, Dimitris Avramopoulos, qualificou inclusive de “antieuropeu” o polonês Tusk, que acusou de “minar” o “princípio de solidariedade” entre os países, “um dos principais pilares do projeto europeu”.

Bruxelas considera incluir na reforma sobre a política de asilo um sistema de “realocação” obrigatória, que se ativaria apenas em caso de uma nova situação de emergência.