Os mediadores internacionais intensificaram nesta quarta-feira (14) seus esforços para obter uma trégua em Gaza entre o movimento islamita Hamas e Israel, que também enfrenta uma tensão crescente em sua fronteira com o Líbano.

Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, 103 pessoas morreram em bombardeios israelenses nas últimas 24 horas no território palestino sitiado, destruído por mais de quatro meses de guerra.

Os ataques se concentraram nas cidades de Khan Yunis e Rafah, no sul, junto à fronteira fechada com o Egito, que se tornou o último refúgio para 1,4 milhão de palestinos, segundo a ONU, a grande maioria deslocada pela guerra e vivendo em condições extremas.

Desde ontem, o Egito recebeu representantes dos Estados Unidos, principal apoiador de Israel, e do Catar, onde vive o líder do Hamas. O objetivo é obter uma trégua que inclua a libertação dos reféns sequestrados em Gaza em 7 de outubro, durante um ataque sem precedentes do movimento islamista palestino em território israelense.

O chefe do serviço secreto israelense (Mossad), David Barnea, participou ontem das conversas com o diretor da CIA, William Burns, o primeiro-ministro do Catar, Mohammed bin Abdelrahman Al-Thani, e autoridades egípcias, informou a emissora AlQahera News, próxima da inteligência egípcia.

Uma delegação do Hamas deve viajar ao Cairo, segundo uma fonte do movimento palestino, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia.

Na Cisjordânia, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina e do partido Fatah, rival do Hamas, instou o movimento islamista no poder em Gaza a “fechar rapidamente” um acordo que permitiria a libertação de prisioneiros palestinos e evitaria “consequências catastróficas”.

O conflito em Gaza reacendeu a tensão entre Israel e o Líbano. O Exército israelense anunciou hoje “uma série de incursões no Líbano” de seus aviões de combate.

O Exército anunciou ter atacado “posições terroristas do Hezbollah” em cidades do sul do Líbano, o que deixou quatro mortos, incluindo três civis da mesma família e um combatente islamista, segundo a Agência Nacional de Informação (ANI, oficial).

O chefe do Estado-Maior israelense, Herzi Halevi, ameaçou fazer “uma campanha muito ofensiva” no Líbano, após meses de hostilidades entre o Exército e o Hezbollah libanês, aliado do Hamas e pró-Irã.

A violência entre o exército israelense e o Hezbollah provocou o deslocamento de dezenas de milhares de pessoas dos dois lados da fronteira.

Os Estados Unidos pediram que se siga pela via diplomática para acalmar a tensão entre os dois países.

A guerra foi desencadeada pelo ataque de 7 de outubro de milicianos do Hamas no sul de Israel, onde quase 1.160 pessoas, a maioria civis, morreram, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.

Em retaliação, Israel prometeu “aniquilar” o Hamas e a sua ofensiva militar deixou 28.576 mortos em Gaza, a grande maioria civis, segundo o balanço mais recente do Ministério da Saúde em Gaza.

Desde o início da guerra, bairros inteiros foram arrasados em Gaza pelos bombardeios israelenses, e 1,7 milhão de pessoas foram deslocadas, segundo a ONU.

A Faixa de Gaza, um território superlotado de 362 km², sitiado por Israel e imerso em uma grande crise humanitária, tem cerca de 2,4 milhões de habitantes.

– ‘Ação vigorosa’ em Rafah –

Rafah é o único centro urbano onde o Exército israelense ainda não penetrou, e principal porta de entrada de ajuda humanitária. Apesar da pressão internacional, o premier de Israel, Benjamin Netanyahu, está determinado a lançar uma ofensiva contra a localidade, “o último reduto” do Hamas, segundo ele.

Netanyahu garantiu no último domingo que abriria “uma passagem segura” para a população sair da cidade, sem especificar onde.

O governo dos Estados Unidos declarou que se opõe a uma ofensiva contra Rafah se não houver garantias para a segurança dos civis. Já o subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, advertiu que “as operações militares em Rafah poderiam levar a um massacre.”

Espanha e Irlanda pediram à Comissão Europeia que investigue com urgência se Israel respeita os direitos humanos no território, “diante da situação insustentável em Gaza e do risco de uma catástrofe humanitária ainda maior devido à expansão da operação militar isralense”, destacou a chefia de governo da Espanha.

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