A Fundação Palmares está sob ameaça e perdendo seus objetivos originais: combater o racismo e fomentar a cultura negra. Paira na presidência da instituição a figura de Sérgio Camargo, que é o primeiro presidente da entidade a defender conceitos radicalmente contrários e desconectados dos ideários da população negra. Seu discurso tosco, repleto de aberrações e mensagem de ódio, é um libelo de desconhecimento da história que permeia a relação entre a África e o Brasil.

“Escória maldita”

Um exemplo dos ataques criminosos promovidos por Camargo foi o vazamento de um áudio, no sábado 30, no qual ele demonstra um profundo derespeito ao movimento negro denominado por ele de ”escória maldita” e “vagabundos”. A gravação foi feita durante uma reunião na Fundação Palmares.

Além de promover o ódio aos negros, no mesmo áudio, Camargo demonstrou preconceitos arraigados na sociedade brasileira contra as religiões de matriz africana. Nesse encontro, o dirigente ataca Adna Santos, conhecida por Mãe Baiana, que trabalha na Subsecretaria de Direitos Humanos e Igualdade Racial, em Brasília. O que se ouve na gravação é a afirmação de que um funcionário da fundação estaria divulgando assuntos indevidos para a mídia, através da mãe de santo. “Uma filha da puta de uma macumbeira, tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo. Além de fazer macumba para mim, essa miserável está querendo agitar invasão aqui de novo”, disse. Adna prestou queixa contra Camargo e diversas entidades negras do País estão se mobilizando para pedir a sua saída da fundação.

“Os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”

Camargo criticou recentemente a criação do Dia da Consciência Negra, feriado marcado para se entender as causas do racismo estrutural no País. “Esse feriado precisa ser abolido nacionalmente por decreto presidencial”, afirmou. Camargo foi capaz de dizer que “no Brasil tem racismo Nutella, o racismo real existe nos EUA. A negrada aqui reclama porque é imbecil e desinformada pela esquerda”. Sua verborragia envergonha as personalidades que criaram a Fundação Palmares, como intelectuais, religiosos e artistas. É o caso da cantora Alcione e a atriz Zezé Motta, que repudiaram suas ações.

Para Nelson Inocêncio da Silva, do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros da Universidade de Brasília, a presidência de Camargo é um acinte. “Trata-se de desvio de finalidade, ele quer desmantelar a Fundação”, afirmou. O professor participou da criação e do conselho curador da instituição e considera Camargo um aventureiro, subserviente defensor das pautas de Bolsonaro, “É um ignorante que não tem estofo para falar da história e da luta em Palmares”, completou. Um fato que chama atenção é que Sérgio Camargo é filho de Oswaldo de Camargo, ilustre jornalista e escritor e um dos maiores representantes da cultura e da literatura negra no Brasil. Talvez somente os psiquiatras entendam o que leva Camargo a agir de forma tão agressiva contra a comunidade negra.