Discurso de ódio de Bolsonaro mata

Bolsonaro reforça convite para atos no 7 de Setembro
Bolsonaro reforça convite para atos no 7 de Setembro Foto: Divulgação

O discurso de ódio de Bolsonaro já não está apenas em seus pronunciamentos no chiqueirinho do Palácio do Alvorada. Extrapolou as fronteiras da civilidade do debate eleitoral para chegar à ameaça concreta, com militantes bolsonaristas matando adversários. Na noite do último sábado, 9, o guarda municipal e tesoureiro do PT, Marcelo Arruda, 50, foi assassinado a tiros em Foz do Iguaçu, no Paraná, durante a comemoração do seu aniversário de 50 anos, cuja temática era o PT, com cores e bandeiras do partido, além de uma foto do ex-presidente Lula, candidato do partido à presidência.

O assassino é o agente penitenciário Jorge José da Rocha Guaranho que está internado (autoridades divergem sobre seu estado de saúde). De acordo com o B.O. (Boletim de Ocorrência), Rocha invadiu a festa gritando “aqui é Bolsonaro”.

Por volta das 23h, Guaranho chegou ao local da festa na sede da Associação Esportiva Saúde Física Itaipu, em um carro branco, com a mulher no banco de trás, segurando um bebê de colo. “Ele (Guaranho) deu a volta de carro, xingou quem estava lá e disse que iria voltar para ‘acabar’ com todo mundo”, disse André Alliana, amigo de Arruda.
Após as ameaças, o petista foi até seu carro e pegou sua pistola com medo de que o bolsonarista Guaranho retornasse. O que de fato aconteceu. Cerca de quinze minutos depois, Guaranho retornou ao local da festa empunhando uma pistola. E já chegou efetuando dois disparos em direção ao salão de festas.

Câmeras de segurança do interior do salão gravaram Arruda de pé, mancando e se abrigando atrás de uma mesa. Logo em seguida, Guaranho aparece correndo dentro do salão de festas, com arma em punho, e mirando em direção a Marcelo Arruda, que tentava se proteger. A mulher de Arruda tenta impedi-lo novamente, mas o atirador se desequilibra e cai, mas mesmo assim consegue efetuar o disparo. O bolsonarista se levanta e tenta fugir do local, enquanto o petista, já ferido, consegue revidar e atira contra Guaranho, que é atingido e cai no chão.

Arruda foi socorrido, no entanto, mas morreu no hospital. Ele deixou esposa e quatro filhos, entre eles um bebê de apenas um mês de vida. O presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou sobre o ocorrido em conversa com apoiadores, como também em seu twitter. “Vocês viram o que aconteceu ontem, né? A briga das duas pessoas lá em Foz do Iguaçu? Bolsonarista, não sei o que lá…Agora, ninguém fala que o Adélio era filiado ao PSOL, né?”, disse Bolsonaro nesta segunda-feira, 11, em conversa com apoiadores no cercadinho do Palácio da Alvorada, em Brasília.

Com essa fala, o presidente tenta minimizar o fato de que o atirador era um seguidor de sua corrente ideológica e tenta voltar a atenção para si, se colocando no papel de vítima, que sofreu atentado político em 2018, se referindo a facada que sofreu em setembro de 2018 durante campanha política por parte de Adélio Bispo, que após apuração da Polícia Federal, concluiu que Adélio não possuía vinculo partidário durante a autoria do crime e que agiu sozinho, sem qualquer motivação política. Adélio foi filiado ao PSOL somente entre os anos de 2007 e 2014.

“Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos”, escreveu Bolsonaro em seu twitter.

O presidente só evidencia o descaso que tem pela vida humana, pois, em vez de prestar solidariedade à família da vítima, afirmou que dispensa apoio de quem pratica violência e que é a esquerda que é a violenta.

No entanto, o que tem se evidenciado no decorrer dos últimos dias são relatos de violência contra a esquerda e não pela esquerda, que estão crescendo na pré-campanha presidencial. Na ultima quinta-feira 7, uma bomba caseira com fezes foi lançada contra o público que acompanhava ato de Lula na Cinelândia, centro do Rio de Janeiro. No mesmo evento, o ex-presidente se utilizou de um colete a prova de balas, sinal de sua preocupação em se resguardar de possíveis atos de violência. Neste mesmo dia, o carro do juiz Renato Borelli, responsável por mandar prender o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, foi vandalizado com fezes de animais, estrume, ovos e terra. Além disso, no mês passado um drone atirou fezes e urina em um ato de Lula em Ubêrlandia, em Minas Gerais. O atirador usava suas redes sociais para expressar seu apoio ao presidente e defendia teses caras ao presidente, como o armamento da população.

Em outubro de 2018, em uma publicação no Facebook, o agente penitenciário que matou o petista em Foz do Iguaçu, já havia deixado claro a defesa das teses de Bolsonaro. “Vamos todos juntos nessa luta para limpar o Brasil do PT, limpar o país desses corruptos que só buscam perpetuação no poder ás custas do bem da maioria”. Em seu twitter, Guaranho se define como conservador e cristão, e escreveu “armas=defesa”, na descrição de seu perfil. Em junho do ano passado, Guaranho aparece sorrindo em uma foto ao lado do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

O presidente não manda ninguém cometer estes crimes de forma explícita, no entanto, seus discursos, motivando ódio contra políticos, jornalistas, magistrados, entre outros, corrompe a visão de mundo de seus apoiadores e seguidores e torna a agressão um instrumento necessário para “limpar o Brasil”.

O ex-presidente Lula lamentou a morte do petista em suas redes sócias na manhã de ontem. “Nosso companheiro Marcelo Arruda comemorava o seu aniversário de 50 anos com a família e amigos em paz, em Foz do Iguaçu. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, sua festa tinha como tema o PT e a esperança no futuro; com a alegria de um pai que acabou de ter mais uma filha”.