Aos 44 anos, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) disputa a presidência do Senado após seu principal cabo eleitoral, o atual presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ter amargado uma grande derrota jurídica no Supremo Tribunal Federal. Sem poder concorrer à reeleição, restou a Alcolumbre escolher um candidato que desse sequência ao alinhamento praticado por ele junto ao presidente Jair Bolsonaro. Ao abraçar o projeto governista, Pacheco carrega agora o estigma de ser o candidato bolsonarista. Apesar de afirmar que não se considera apoiado pela máquina pública, o senador tem ao redor de sua candidatura a força da oferta de cargos e liberações de emendas parlamentares, moedas usadas pelo governo na tentativa de manter o controle do Senado sob as mãos de seus aliados políticos. As movimentações governistas surtiram efeitos, e mesmo antes de se lançar oficialmente na disputa, o que só ocorreu na última terça-feira (19), Pacheco já tinha o apoio de 38 senadores. Para conquistar o comando da Casa, são necessários 41 votos, em uma eleição secreta que deve ser norteada pelo apoio em troca de benefícios.

O senhor chega para a eleição à presidência do Senado como o candidato apoiado por Bolsonaro e pela máquina governista. O senhor concorda com a estratégia de uso de ofertas de cargos e emendas em troca de votos?
A minha candidatura decorre de uma indicação do meu partido político, o Democratas, com o apoio de outros tantos partidos com representação no Senado, de seus senadores e senadoras. Não me considero candidato de máquina alguma, mas de um movimento genuíno de união de diversos partidos, de vários espectros ideológicos, e que busca a unificação do Senado para que desempenhemos um bom trabalho nos próximos dois anos. Desconheço e discordo de qualquer iniciativa de troca de cargos ou de emendas parlamentares em favor da minha candidatura ou em qualquer outro processo eleitoral.

O rótulo de governista, em meio às posições incoerentes do presidente da República, não lhe causa desconforto?
Há uma essência na minha candidatura que é a de um movimento de união de senadores, de senadoras, dos partidos com representação no Senado, mas vou buscar sempre ter um diálogo harmonioso com o governo federal, com a base governista e com os partidos de oposição, para encontramos soluções aos problemas urgentes do País.

Simone Tebet, candidata do MDB, conta com traições nos partidos que dizem lhe apoiar. Como o senhor trabalha para a manutenção dos votos tidos como certos?
O Senado é composto por 81 senadores e senadoras, homens e mulheres experimentados e experientes, com suas convicções. De modo que nós não apostamos, absolutamente, em traições. Apostamos nas posições dos parlamentares, na maioria das vezes já com posições antecipadas de apoio à nossa candidatura. Por isso, vamos continuar o diálogo com a transparência necessária, deixando bem claras nossas posições, para ampliarmos a nossa base de apoio.

O presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, declarou que o partido o apoia, mas há um racha na legenda?
Com o respeito que todos merecem, obviamente não dispensamos o apoio de nenhum senador ou senadora. Vamos buscar o apoio do maior número possível deles, para termos uma candidatura que, se vitoriosa, represente a união do Senado.

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O atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), é considerado um articulador capaz de apaziguar ânimos exaltados no Congresso. Como será sua atuação caso o vencedor na Câmara seja um opositor ao governo?
De fato, o presidente Davi Alcolumbre se mostrou preparado, apto para o consenso e um solucionador de problemas. Buscarei dar continuidade a esse perfil agregador, seja quem for o próximo presidente da Câmara. Buscarei manter o diálogo, em alto nível, entre as duas casas, com foco nas soluções comuns para os problemas do país.

Alcolumbre não fez nenhum movimento para que o Conselho de Ética avançasse na apuração das denúncias contra o senador Flávio Bolsonaro no esquema das rachadinhas. Como o senhor vai agir no caso do filho do presidente?
O Conselho de Ética é um órgão importante do Senado, como o é das casas legislativas de um modo geral, tanto que os seus representantes são eleitos para essa função. Portanto, o Conselho de Ética tem sua independência. Mas, de fato, com o advento da pandemia, infelizmente as atividades do Conselho de Ética ficaram prejudicadas no ano de 2020. Naturalmente faremos funcionar todos os órgãos do Senado e, claro, o Conselho de Ética, que não pode servir apenas como um instrumento punitivista. Ele tem que ser um instrumento de esclarecimento de fatos colocados, inclusive, para que os senadores que tenham representações contra si possam ter a oportunidade de demonstrar suas razões para extirpar qualquer dúvida sobre os fatos relacionados aos seus respectivos mandatos.

O senhor considera que as atitudes de Jair Bolsonaro são prejudicais ou causam ameaças à democracia?
Há divergências no ambiente democrático. Há pontos de vista conflitantes, e isso, muitas vezes, deriva para alguns atritos e, eventualmente, as diferenças descambam até para algum tipo de rispidez. Há personalidades muito próprias envolvidas nesse debate. O presidente Jair Bolsonaro tem uma personalidade forte, uma autenticidade e temos de respeitar isso. Evidentemente que esses atritos jamais podem se constituir em qualquer tipo de ameaça às instituições ou à democracia. E, se eventualmente acontecer qualquer tipo de atrito e isso derivar para uma ameaça concreta à democracia, o Congresso Nacional resistirá, já que ele é o responsável pela preservação do Estado Democrático de Direito.

Na sua avaliação, é possível manter um diálogo coerente com o presidente?
Não só acho possível, como considero absolutamente necessário. É preciso que o Parlamento dialogue sistematicamente com o Poder Executivo, pois há o interesse comum que precisa ser solucionado a partir desse diálogo.

Como o senhor vê a discussão sobre o voto impresso que volta a ser defendido pelo próprio presidente Bolsonaro, que ameaça repetir aqui o que aconteceu nos EUA.
O Congresso não está inerte às ameaças, esperando que elas aconteçam para depois se mobilizar contra isso. A Justiça Eleitoral assegura, com muita veemência, a segurança das eleições e das urnas eletrônicas, rechaçando a ocorrência de qualquer tipo de fraude, a partir de aferições técnicas. Por sua vez, há setores da sociedade que dizem o contrário, apontando indícios de fraude nas eleições, incluindo aí o próprio presidente da República. O voto impresso defendido pelo presidente pode eventualmente ser debatido, mas não devemos mudar nada que afete o sigilo do voto.

O senhor pensa em colocar esse tema novamente em discussão já para as eleições de 2022?
A decisão sobre a pauta, embora seja prerrogativa do presidente do Senado, precisa ser apreciada pelo Colégio de Líderes. E eventualmente havendo, por parte do Colégio de Líderes, o interesse de que esse projeto possa ser discutido no âmbito do Senado, caberá ao presidente acatar a vontade da maioria e submetê-la à apreciação do plenário.

No ano passado, intensificou-se a batalha entre a equipe econômica e alguns parlamentares sobre as reformas, que acabaram não sendo votadas. Como fazer que elas passem no Congresso?
Não há necessidade de haver batalha entre a equipe econômica e o Parlamento. Pode haver divergências, que serão dirimidas com o diálogo e a observância do rito próprio para a deliberação das reformas. Elas são necessárias e é evidente que cabe ao Parlamento o protagonismo dos parâmetros para a definição das reformas. Se eu for eleito presidente do Senado, irei buscar fazer com que as reformas sejam discutidas no âmbito do Senado com o máximo de alinhamento com a equipe econômica, para fazermos o melhor trabalho possível para a sociedade, que leve à recuperação econômica e à retomada do crescimento.

É possível fazer uma reforma tributária que unifique impostos nas três esferas ou o Congresso só deve conseguir aprovar uma reforma fatiada, a fim de evitar mexer com setores mais significativos da economia?
A reforma tributária é uma típica modificação do ordenamento jurídico que não pode conter erros. O erro pode ser fatal para setores inteiros, pode prejudicar estados da federação, de modo que ela precisa ser muito bem discutida. Há a disposição do Parlamento brasileiro em discutir, deliberar e aprovar uma reforma que se faça a partir de um trabalho muito intenso, sob o ponto de vista técnico e político, para que ainda no primeiro semestre possamos aprová-la. Não podemos desconsiderar a possibilidade da proposta unificar os impostos federais, estaduais e municipais. Essa é uma possibilidade, mas não haverá, por parte da presidência do Senado, caso eu seja eleito presidente, a imposição da minha vontade. Vamos discutir, com todos os senadores, o melhor modelo de reforma para o Brasil.

Por que há tanta resistência em incluir a taxação de lucros e dividendos na proposta?
A resistência não se dá pela natureza do imposto, mas, sim, pela criação de um novo tributo, o que a sociedade não aceita. A partir do momento em que houver uma reforma tributária criando uma nova modalidade de tributo, deve-se extinguir outra, onerando de um lado, mas desonerando do outro. Nesse caso creio que a discussão será aceita pelo Parlamento e pela sociedade. O que não dá é mantermos um sistema tributário tão voraz como é o nosso, e ainda criar novos impostos, como é o caso da taxação sobre a distribuição de dividendos, sem que haja uma compensação de desoneração de outro lado.

O senhor defende a prorrogação do auxílio emergencial ou a ampliação do Bolsa Família?
Defendo a responsabilidade fiscal e os ajustes necessários no orçamento. Reconheço, por outro lado, que em função da adversidade decorrente da pandemia, da excepcionalidade do momento e do grande número de brasileiros atingidos por essa crise, os desvalidos merecem toda a atenção do Estado para que possamos preservar vidas, famílias e os interesses das pessoas que mais precisam do estado neste momento. Então, vamos discutir formas e modalidades naquilo que o Direito chama de Estado de Necessidade: as famílias precisam ser socorridas, dentro de um certo prazo, para que possam se reestabelecer e, mais adiante, já com os empregos de volta, possam se recuperar.



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