Ao ter Criolo e Mano Brown no mesmo disco, Verocai anula um separatismo que os fãs do rap criaram e une, quando coloca também Seu Jorge, três faces de uma mesma moeda.

Criolo canta O Tambor, um samba-rock cheio de metais e convites para a pista. Ele enfrenta uma tonalidade bem baixa que quase o derruba nas maiores descidas. Seu ritmo é de festa mas seu discurso é da indignação. “O meu canto é um sopro de um soco em vão / E também da carne que o homem comeu / E de todo o sangue que se esqueceu / Onde isso vai dar.”

Brown traz seu charm Cigana, para a qual ele mesmo fez letra e música. “Eu só aparei as arestas”, diz Verocai. A música mostra outro Brown, um rapper que canta pela primeira vez. E ele aparece cantando mesmo, em tom alto e cheio de melodias, mais do que em seu recente disco solo, Boogie Naipe. O rap ainda não revelou vozes de fôlego, mas há mais potencial como cantor em Mano Brown do que no próprio Criolo ou em Emicida. Seu Jorge, que não canalizou para seu discurso uma indignação que poderia ter sido cultivada em sua origem, canta com mais leveza e força de graves a faixa-título, No Voo do Urubu.

ARTHUR VEROCAI

Lançamento do disco ‘No Voo do Urubu’. Sesc Pinheiros. R. Paes Leme, 195, tel.: 3095-9400. Hoje (16) e amanhã (17), 21h. R$ 50

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.