Um alto dirigente do Hamas afirmou neste domingo (15) que o movimento islamista palestino tem grande capacidade de continuar lutando contra Israel, apesar das perdas sofridas durante mais de onze meses de guerra na Faixa de Gaza.

“A resistência tem uma grande capacidade para continuar”, disse Osama Hamdan em entrevista à AFP em Istambul.

“Houve mártires e sacrifícios […] mas, em troca, houve uma acumulação de experiências e o recrutamento de novas gerações na resistência”, acrescentou.

Suas declarações ocorrem menos de uma semana depois de o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, ter afirmado à imprensa que o Hamas “não existe mais como formação militar” em Gaza.

A guerra entre Israel e o Hamas começou em 7 de outubro com o ataque do movimento islamista no sul de Israel, que resultou na morte de 1.205 pessoas, incluindo reféns mortos ou assassinados em cativeiro, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.

Os comandos islamistas sequestraram naquele dia 251 pessoas, das quais 97 continuam detidas em Gaza, incluindo 33 que, segundo o Exército israelense, estão mortos.

A campanha militar de Israel contra a Faixa de Gaza deixou até o momento 41.206 mortos, de acordo com o Ministério da Saúde deste território governado pelo Hamas desde 2007.

– Impasse nas negociações –

Os países mediadores – Estados Unidos, Catar e Egito – tentam há meses negociar um cessar-fogo e um acordo para a troca de reféns e prisioneiros entre Israel e Hamas, mas as negociações estão em um impasse.

Ambos os lados se acusam mutuamente de bloquear as conversações.

O alto dirigente do Hamas acusou os Estados Unidos de não pressionar Israel para alcançar um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza.

“A administração dos Estados Unidos não está exercendo pressão suficiente ou adequada sobre a parte israelense”, afirmou o representante do movimento palestino.

“Em vez disso, está tentando justificar que a parte israelense evite qualquer compromisso”, acrescentou Hamdan.

O governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta forte pressão dentro de Israel para garantir a libertação dos reféns que ainda estão detidos na Faixa de Gaza.

Netanyahu acusou o Hamas de rejeitar qualquer compromisso e disse que não cederia “à pressão” sobre os pontos que bloqueiam as negociações.

O Hamas exige uma retirada israelense completa de Gaza, incluindo do corredor Filadélfia, uma estreita faixa de terra ao longo da fronteira com o Egito, que se tornou um dos principais obstáculos nas conversações.

Netanyahu afirmou que pelo menos 17 mil combatentes do Hamas morreram desde o início da guerra em Gaza.

– “Mensagem” para a região –

A guerra entre Israel e o Hamas mobiliza outros movimentos na região em solidariedade aos palestinos, especialmente o Hezbollah libanês e os rebeldes huthi do Iêmen.

Estes últimos dispararam um míssil que caiu neste domingo no centro de Israel, sem causar vítimas, mas obrigando muitos israelenses a se dirigirem para abrigos na região de Tel Aviv.

Para Osama Hamdan, isso é “uma mensagem dirigida a toda a região, mostrando que Israel não é uma entidade imune” e que “suas capacidades têm limites”.

Hamdan também quis enviar uma mensagem aos líderes árabes que normalizaram suas relações diplomáticas com Israel, ou que planejam fazê-lo, perguntando o que sentiriam se seus países fossem ocupados enquanto o resto do mundo permanecesse indiferente.

“Se consideram Israel uma bênção […], deveriam dar uma parte de seus países”, ironizou.

O dirigente palestino mencionou ainda os possíveis cenários pós-guerra, assegurando que o líder do Hamas, Yahya Sinwar, nunca abandonará o território sitiado.

“O próximo governo de Gaza deve ser um governo palestino comum”, declarou Osama Hamdan, acrescentando que representantes das diferentes facções palestinas se reunirão em breve no Cairo para desenvolver uma visão comum para o pós-guerra.

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