A crise que abala o setor agrícola em muitos países da União Europeia poderia ser um “obstáculo” para a aprovação do acordo de livre-comércio com o Mercosul, sugeriu nesta quinta-feira (25) o alto representante de política externa do bloco europeu, Josep Borrell.

“Temos que ver se a atual crise da agricultura europeia não representa mais um obstáculo neste caminho”, disse Borrell durante um seminário com legisladores europeus e latino-americanos no Parlamento Europeu.

Depois de duas décadas de negociações sobre esse acordo, “agora a bola está do lado da Europa. Somos nós que temos que dizer se queremos ou não”, afirmou o diplomata espanhol.

De acordo com Borrell, do lado dos países latino-americanos, a “disposição para firmar o acordo é maior do que nunca”.

Contudo, os avanços nas conversas entre negociadores do Mercosul e da UE coincidiram com um agravamento notável da crise e a mobilização do setor agrícola na Europa.

Nesta quinta-feira, a França voltou a registrar manifestações e protestos de agricultores para denunciar sua situação econômica. O influente setor agrícola francês é um dos mais ferrenhos opositores ao acordo UE-Mercosul.

A oposição de esquerda pediu nesta quinta-feira ao presidente francês, Emmanuel Macron, que “diga claramente ‘stop’ [pare] ao acordo” negociado com o Mercosul, como uma das respostas para a indignação dos agricultores.

Para Borrell, “não há vazios na geopolítica, e se nossos Estados e nossas empresas e instituições financeiras deixam um espaço, outros vão aproveitar”.

Reunidos nesta quarta-feira no Paraguai, os ministros das Relações Exteriores dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai e Bolívia) afirmaram, em uma declaração conjunta, que o bloco do Cone Sul deseja concluir o acordo com a UE o mais cedo possível.

“Será prioridade concluir os aspectos pendentes das negociações com a União Europeia e conseguir a assinatura de um acordo equilibrado para ambas as partes o mais rápido possível”, indicaram os ministros.

Em 2019, após duas décadas de negociações complexas, os dois blocos anunciaram que tinham chegado a um acordo de livre-comércio.

Contudo, a UE exigiu o acréscimo de um capítulo adicional com exigências ambientais que levou a um novo atraso nas negociações.

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