O cineasta e escritor francês Claude Lanzmann, diretor do emblemático documentário “Shoah”, sobre o Holocausto, de mais de nove horas de duração, morreu nesta quinta-feira (5) em Paris, aos 92 anos – anunciou a editora Gallimard.

“Lanzmann faleceu esta manhã em sua residência. Estava com a saúde muito, muito frágil há vários dias”, afirmou uma porta-voz da editora.

A morte do cineasta foi confirmada pela produção de seu último filme, “Les quatre soeurs”, que estreou na quarta-feira na França.

O diretor do grande documentário sobre o extermínio dos judeus na Europa também foi jornalista, escritor e diretor da revista francesa “Temps modernes”.

Amigo de Jean-Paul Sartre, companheiro de Simone de Beauvoir, foi um defensor incansável da causa de Israel.

No ano passado, ficou profundamente abalado pela morte de seu filho Félix, de 23 anos, vítima segundo ele de um “câncer sem piedade”.

“A morte não é evidente. Eu não defendo em nada a morte. Continuo acreditando na vida. Amo a vida com loucura, apesar de, na maioria das vezes, não ser divertida”, disse Lanzmann recentemente à AFP.

O diretor se declarava um resistente e combatente a favor da verdade.

“Quando vejo o que fiz ao longo da minha vida, acredito que encarnei a verdade. Nunca brinquei com isto”, afirmou.

– ‘Mergulhos no vazio’ –

Em um livro-homenagem publicado pela Gallimard no último ano, “Claude Lanzmann, un voyant dans le siècle”, o professor Didier Sicard, ex-presidente do Comitê consultivo nacional de ética, considera que o cineasta marcou tanto a história do cinema quanto a do extermínio do povo judeu, “ao qual ele deu a sepultura que lhe faltava”.

“Eu tinha por ele uma admiração sem limites. Claude era um monstro sagrado, um gigante da literatura, um monumento de múltiplas facetas que contou com paixão e verdade a história do século XX”, reagiu o ex-ministro da Cultura Jack Lang.

“Era um valente (…) e um homem bom”, afirmou o filósofo Bernard-Henri Levy, com quem teve, eventualmente, relações conflituosas.

Claude Lanzmann foi “este homem inacreditável que ofereceu ao mundo a palavra ‘Shoah’ para dizer o indizível”, disse o grande rabino da França Haïm Korsia.

Cineasta e escritor, nascido em 27 de novembro de 1925, contou sua trajetória em seu livro de memórias, “A lebre da Patagônia” (Gallimard, 2009).

Nele, conta como, quando criança, no liceu Condorcet em Paris, descobriu o antissemitismo. Longe de se glorificar, lembra-se de não ter defendido, “por covardia”, “um grande ruivo” chamado Lévy, alvo de alunos antissemitas.

Por que evocar esse episódio pouco honroso? “Porque é a verdade. Se eu não tivesse dito isso, teria falsificado todo resto”, explicou.

“Quem me curou e me livrou da vergonha (de ser judeu), me fazendo entender o que aconteceu, chama-se Jean-Paul Sartre”, confidencia.

Seu encontro com Sartre foi decisivo. Depois da guerra, ele entra na redação da “Tempos modernos”, a revista criada pelo filósofo. É lá que encontra Simone de Beauvoir, com quem viverá uma tórrida história de amor.

Claude Lanzmann fez parte de todos os grandes combates do pós-guerra, sobretudo, em favor da independência dos países colonizados. Também será um defensor incondicional de Israel, vendo no antissionismo “uma das máscaras do antissemitismo”.

Ele testemunhou sua ligação com o Estado hebreu em filmes como “Pourquoi Israël”, ou “Tsahal”.

Em “La tombe du divin plongeur” (Gallimard, 2012), resumiu sua vida: “Se busco uma coerência, uma unidade com as centenas de vidas que dizem terem sido minhas, o mergulhador divino – é o nome, no museu de Paestum, da placa que ornava a parte de cima de um túmulo – ocupa um lugar central. Mergulhei na verdade ao longo de toda minha vida, e não apenas no mar. As escolhas decisivas que fui levado a fazer foram como mergulhos, lances no vazio”.