O diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) visitou nesta quarta-feira (19) a danificada central nuclear japonesa de Fukushima, um dia após o governo nipônico aprovar um plano que contempla o retorno à energia atômica.
O argentino Rafael Grossi visitou a usina para supervisionar os trabalhos de descontaminação do solo do local.
A AIEA monitora o trabalho do Japão para desativar a central de Fukushima Daiichi, danificada pelo tsunami desencadeado em 11 de março de 2011 por um terremoto, que deixou 18.000 mortos e provocou o acidente nuclear mais grave desde o de Chernobyl em abril de 1986.
O Japão se comprometeu na época a “reduzir sua dependência da energia nuclear dentro do possível”.
O governo japonês, no entanto, aprovou na terça-feira um plano para aumentar o uso de energia nuclear diante da crescente demanda energética provocada pela Inteligência Artificial e pelas fábricas de semicondutores.
“Em um momento em que o Japão empreende um retorno gradual da energia nuclear à sua matriz energética, é importante que isso seja feito com total segurança e com a confiança da sociedade”, disse Grossi após uma reunião com o ministro japonês das Relações Exteriores, Takeshi Iwaya.
O Japão divulgou na terça-feira o Plano Estratégico de Energia, que inclui a intenção de que as energias renováveis sejam a principal fonte de energia do país até 2040.
Segundo o plano, a energia nuclear representará quase 20% do abastecimento energético do Japão até 2040, contra 5,6% em 2022.
O retorno à energia nuclear acontece em meio ao processo de desativação de Fukushima Daiichi, o que deve levar décadas e exige a retirada de 880 toneladas de escombros radioativos dos reatores.
Até o momento, apenas uma pequena amostra foi recuperada com o auxílio de uma garra robotizada.
Em sua quinta visita a Fukushima, Grossi observou pela primeira vez o armazenamento temporário de terra perto da usina.
Quase 13 milhões de metros cúbicos de solo e 300.000 metros cúbicos de resíduos da incineração de matéria orgânica foram removidos do solo da região para evitar a radiação e armazenados.
As autoridades japonesas planejam reciclar cerca de 75% do solo contaminado – aquele com baixo nível de radioatividade – usando-o, se for garantido que é seguro, para estruturas de engenharia civil, como aterros de estradas e trilhos de trem.
O material que não puder ser reciclado deverá ser descartado até 2045.
“Em termos de calendário, que foi estabelecido por lei para 2045, acreditamos que não é algo irreal. Pode ser feito”, declarou Grossi à imprensa.
A AIEA publicou seu relatório final sobre a reciclagem e a descontaminação do solo em setembro. O texto afirma que a abordagem do Japão é coerente com as normas de segurança da ONU.
Especialistas da AIEA e de países vizinhos, como China e Coreia do Sul, também coletaram amostras de água do mar e peixes de Fukushima nesta quarta-feira.
“Assim, poderão verificar por conta própria que o que estamos fazendo é totalmente coerente e completamente seguro”, afirmou Grossi.
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